sexta-feira, 23 de março de 2012

Nascimento

1963, escolhi este ano como título de minha primeira postagem neste blog, pois foi este o primeiro ano de minha vida. Nasci no dia 12 de fevereiro de 1963, por um parto dito "normal" em uma maternidade do bairro da Penha no Rio de Janeiro às 21:45, portanto, sou do signo de aquário, aquele que os astrólogos dizem viver sempre a frente de seu tempo.


Contudo, acredito que para que possamos viver a frente de nosso tempo não podemos jamais esquecer nossa história e os fatos e acontecimentos que nos trouxeram até aqui. Em 1963 dois acontecimentos marcaram a história de nossa sociedade o primeiro deles ocorreu no dia 28 de agosto de 1963, foi o discurso do Pastor norte americano Martin Luther King, a titulo de curiosidade e em homenagem a este grande homem, transcrevo abaixo seu discurso:

"EU TENHO UM SONHO Discurso de Martin Luther King (28/08/1963)
"Eu estou contente em unir-me com vocês no dia que entrará para a história como a maior demonstração pela liberdade na história de nossa nação. Cem anos atrás, um grande americano, na qual estamos sob sua simbólica sombra, assinou a Proclamação de Emancipação. Esse importante decreto veio como um grande farol de esperança para milhões de escravos negros que tinham murchados nas chamas da injustiça. Ele veio como uma alvorada para terminar a longa noite de seus cativeiros. Mas cem anos depois, o Negro ainda não é livre. Cem anos depois, a vida do Negro ainda é tristemente inválida pelas algemas da segregação e as cadeias de discriminação. Cem anos depois, o Negro vive em uma ilha só de pobreza no meio de um vasto oceano de prosperidade material. Cem anos depois, o Negro ainda adoece nos cantos da sociedade americana e se encontram exilados em sua própria terra. Assim, nós viemos aqui hoje para dramatizar sua vergonhosa condição. De certo modo, nós viemos à capital de nossa nação para trocar um cheque. Quando os arquitetos de nossa república escreveram as magníficas palavras da Constituição e a Declaração da Independência, eles estavam assinando uma nota promissória para a qual todo americano seria seu herdeiro. Esta nota era uma promessa que todos os homens, sim, os homens negros, como também os homens brancos, teriam garantidos os direitos inalienáveis de vida, liberdade e a busca da felicidade. Hoje é óbvio que aquela América não apresentou esta nota promissória. Em vez de honrar esta obrigação sagrada, a América deu para o povo negro um cheque sem fundo, um cheque que voltou marcado com "fundos insuficientes". Mas nós nos recusamos a acreditar que o banco da justiça é falível. Nós nos recusamos a acreditar que há capitais insuficientes de oportunidade nesta nação. Assim nós viemos trocar este cheque, um cheque que nos dará o direito de reclamar as riquezas de1 liberdade e a segurança da justiça. Nós também viemos para recordar à América dessa cruel urgência. Este não é o momento para descansar no luxo refrescante ou tomar o remédio tranqüilizante do gradualismo. Agora é o tempo para transformar em realidade as promessas de democracia. Agora é o tempo para subir do vale das trevas da segregação ao caminho iluminado pelo sol da justiça racial. Agora é o tempo para erguer nossa nação das areias movediças da injustiça racial para a pedra sólida da fraternidade. Agora é o tempo para fazer da justiça uma realidade para todos os filhos de Deus. Seria fatal para a nação negligenciar a urgência desse momento. Este verão sufocante do legítimo descontentamento dos Negros não passará até termos um renovador outono de liberdade e igualdade. Este ano de 1963 não é um fim, mas um começo. Esses que esperam que o Negro agora estará contente, terão um violento despertar se a nação votar aos negócios de sempre.Mas há algo que eu tenho que dizer ao meu povo que se dirige ao portal que conduz ao palácio da justiça. No processo de conquistar nosso legítimo direito, nós não devemos ser culpados de ações de injustiças. Não vamos satisfazer nossa sede de liberdade bebendo da xícara da amargura e do ódio. Nós sempre temos que conduzir nossa luta num alto nível de dignidade e disciplina. Nós não devemos permitir que nosso criativo protesto se degenere em violência física. Novamente e novamente nós temos que subir às majestosas alturas da reunião da força física com a força de alma. Nossa nova e maravilhosa combatividade mostrou à comunidade negra que não devemos ter uma desconfiança para com todas as pessoas brancas, para muitos de nossos irmãos brancos, como comprovamos pela presença deles aqui hoje, vieram entender que o destino deles é amarrado ao nosso destino. Eles vieram perceber que a liberdade deles é ligada indissoluvelmente a nossa liberdade. Nós não podemos caminhar só. E como nós caminhamos, nós temos que fazer a promessa que nós sempre marcharemos à frente. Nós não podemos retroceder. Há esses que estão perguntando para os devotos dos direitos civis, "Quando vocês estarão satisfeitos?" Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto o Negro for vítima dos horrores indizíveis da brutalidade policial. Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto nossos corpos, pesados com a fadiga da viagem, não poderem ter hospedagem nos motéis das estradas e os hotéis das cidades. Nós não estaremos satisfeitos enquanto um Negro não puder votar no Mississipi e um Negro em Nova Iorque acreditar que ele não tem motivo para votar. Não, não, nós não estamos satisfeitos e nós não estaremos satisfeitos até que a justiça e a retidão rolem abaixo como águas de uma poderosa correnteza. Eu não esqueci que alguns de você vieram até aqui após grandes testes e sofrimentos. Alguns de você vieram recentemente de celas estreitas das prisões. Alguns de vocês vieram de áreas onde sua busca pela liberdade lhe deixaram marcas pelas tempestades das perseguições e pelos ventos de brutalidade policial. Você são o veteranos do sofrimento. Continuem trabalhando com a fé que sofrimento imerecido é redentor. Voltem para o Mississippi, voltem para o Alabama, voltem para a Carolina do Sul, voltem para a Geórgia, voltem para Louisiana, voltem para as ruas sujas e guetos de nossas cidades do norte, sabendo que de alguma maneira esta situação pode e será mudada. Não se deixe caiar no vale de desespero. Eu digo a você hoje, meus amigos, que embora nós enfrentemos as dificuldades de hoje e amanhã. Eu ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho americano. Eu tenho um sonho que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado de sua crença - nós celebraremos estas verdades e elas serão claras para todos, que os homens são criados iguais. Eu tenho um sonho que um dia nas colinas vermelhas da Geórgia os filhos dos descendentes de escravos e os filhos dos desdentes dos donos de escravos poderão se sentar junto à mesa da fraternidade. Eu tenho um sonho que um dia, até mesmo no estado de Mississippi, um estado que transpira com o calor da injustiça, que transpira com o calor de opressão, será transformado em um oásis de liberdade e justiça. Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. Eu tenho um sonho hoje! Eu tenho um sonho que um dia, no Alabama, com seus racistas malignos, com seu governador que tem os lábios gotejando palavras de intervenção e negação; nesse justo dia no Alabama meninos negros e meninas negras poderão unir as mãos com meninos brancos e meninas brancas como irmãs e irmãos. Eu tenho um sonho hoje! Eu tenho um sonho que um dia todo vale será exaltado, e todas as colinas e montanhas virão abaixo, os lugares ásperos serão aplainados e os lugares tortuosos serão endireitados e a glória do Senhor será revelada e toda a carne estará junta. Esta é nossa esperança. Esta é a fé com que regressarei para o Sul. Com esta fé nós poderemos cortar da montanha do desespero uma pedra de esperança. Com esta fé nós poderemos transformar as discórdias estridentes de nossa nação em uma bela sinfonia de fraternidade. Com esta fé nós poderemos trabalhar juntos, rezar juntos, lutar juntos, para ir encarcerar juntos, defender liberdade juntos, e quem sabe nós seremos um dia livre. Este será o dia, este será o dia quando todas as crianças de Deus poderão cantar com um novo significado. "Meu país, doce terra de liberdade, eu te canto. Terra onde meus pais morreram, terra do orgulho dos peregrinos, De qualquer lado da montanha, ouço o sino da liberdade!" E se a América é uma grande nação, isto tem que se tornar verdadeiro. E assim ouvirei o sino da liberdade no extraordinário topo da montanha de New Hampshire. Ouvirei o sino da liberdade nas poderosas montanhas poderosas de Nova York. Ouvirei o sino da liberdade nos engrandecidos Alleghenies da Pennsylvania. Ouvirei o sino da liberdade nas montanhas cobertas de neve Rockies do Colorado. Ouvirei o sino da liberdade nas ladeiras curvas da Califórnia. Mas não é só isso. Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Pedra da Geórgia. Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Vigilância do Tennessee. Ouvirei o sino da liberdade em todas as colinas do Mississipi. Em todas as montanhas, ouviu o sino da liberdade. E quando isto acontecer, quando nós permitimos o sino da liberdade soar, quando nós deixarmos ele soar em toda moradia e todo vilarejo, em todo estado e em toda cidade, nós poderemos acelerar aquele dia quando todas as crianças de Deus, homens pretos e homens brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão unir mãos e cantar nas palavras do velho spiritual negro:"Livre afinal, livre afinal. Agradeço ao Deus todo-poderoso, nós somos livres afinal."


Em abril de 1968 este homem que tinha um sonho deixou este mundo assassinado por um homem branco que havia escapado da prisão e com certeza era incapaz de sonhar. Hoje, 45 anos depois, os Estados Unidos, país das liberdades individuais e da democracia, poderá ter seu primeiro presidente negro, "Barack Obama", filho de pai negro, mãe branca e avô asiático, pode representar a concretização do sonho de Martin, pois representa a unificação e a transposição das barreiras raciais que até hoje inspiram discórdia no mundo todo.


Aqui mesmo no Brasil, as feridas da escravidão continuam abertas, e, infelizmente, nossos líderes políticos tentam tirar proveito dessa página triste de história com a aprovação de leis paternalistas e hipócritas, como o caso do regime de cotas raciais nas universidades públicas, quando na verdade deveriam se dedicar a formação básica de nossas crianças proporcionando a todas, desde os primeiros anos escolares, um ensino de qualidade, que realmente seja capaz de tirar nosso povo da ignorância e lhes proporcionar a capacidade de lutar e realmente conquistar dias melhores no futuro.


Em nosso país, quem pode afirmar não possuir raízes negras, precisamos ultrapassar essa pequenez de alma, e entender que somos todos iguais, desde que possamos contar com oportunidades iguais e governantes que não se ocupem apenas com a valorização de suas próprias e pequenas vidas. Chega de desonestidade, chega de deslealdade, chega de impunidade, chega de egoísmo, plagiando Marcelo D2: "chega de ser subjugado, subtraído, sub país, sub infeliz", sem querer ser radical, vamos mudar o que há de ruim na cultura ocidental do liberalismo, preocupado apenas com os aspectos econômicos do desenvolvimento e da capacidade de se manter produtivo na economia globalizada, vamos gastar um pouco do que este gigante país possui e produz de riqueza na qualidade de vida de nossa gente: branca, negra, índia... enfim gente brasileira. Aí sim, poderemos olhar para o futuro e continuar tendo um sonho.


O segundo grande acontecimento do ano de 1963 foi o assassinato de "John Kennedy", em 22 de novembro de 1963. Para conhecermos um pouco desse homem que foi presidente dos EUA e que, estava em plena campanha para reeleição do ano de 1964, transcreverei abaixo algumas de suas frases:


"Quanto mais aumenta nosso conhecimento, mais evidente fica nossa ignorância."


Se formos mudar as coisas de modo como devem ser mudadas, teremos de fazer coisas que não gostaríamos de fazer.

Se você agir sempre com dignidade, talvez não consiga mudar o mundo, mas será um canalha a menos.

A mudança é a lei da vida. Aqueles que olham apenas para o passado ou para o presente serão esquecidos no futuro.

O maior inimigo da verdade é frequentemente não a mentira - deliberada, planejada, desonesta - mas sim o mito - persistente, entranhado e irreal.


O laço essencial que nos une é que todos habitamos este pequeno planeta. Todos respiramos o mesmo ar. Todos nos preocupamos com o futuro dos nossos filhos. E todos somos mortais."
Essa é demais:
"O fracasso não tem amigos."
Em 1963 o Muro de Berlim ainda não havia caído, o mundo era dividido em ocidente e oriente, Kennedy apoio a desaceleração da corrida armamentista, e dizem alguns historiadores que seu assassinato foi arquitetado pela indústria bélica, mas com certeza sua posição contribuiu enormemente para a realização do tratado de proibição dos teste nucleares em 1963.
Hoje o mundo continua dividido em dois lados: pobres e ricos. A história conta que uma das maiores virtudes de Kennedy era a sua capacidade de motivar as pessoas e de fazê-las acreditar no futuro. Acredito que estamos precisando de líderes assim agora, que nos motivem, nos mobilizem, que consiga, ou ao menos tentem, reduzir as diferenças, que nos ajude a acreditar que é possível um planeta onde crianças não morram de fome, pessoas não se matem em nome de Deus, que sejamos capazes de olhar o próximo com sincero sentimento de solidariedade.
Solidariedade, fraternidade, o último dos lemas da Revolução Francesa: "Liberdade, Igualdade, Fraternidade". Será este o momento de conquistá-la?



Cristiane

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