terça-feira, 9 de abril de 2013

MUNDO GAY


As conversas masculinas raramente são generosas quando se trata dos gays. O comentário mais benigno que eu escuto desde criança é que os gays são legais porque deixam mais mulheres para o resto de nós. Apesar desse clichê, e de tantos outros igualmente bobos, minha impressão é que a influência gay no mundo masculino tem sido enorme nas últimas décadas. Enorme, subestimada e positiva.
você olha na rua e não distingue mais o gay do não gay. Além de se vestir de forma parecida, homens gays e heteros estão igualmente malhados, bem definidos, de corpo cuidado. A vaidade que antes era feminina e depois virou gay agora é descaradamente masculina. Há caras perfeitamente macho que depilam o peito, tiram a sobrancelha, cuidam das unhas, fazem mecha nos cabelos. São os metrosexuais, que viraram referência para homens de todas as idades. Um cidadão dos anos 50 que desembarcasse subitamente na Centro do rio acharia que metade dos homens se parece com mulher. Do ponto de vista dele, seríamos todos um pouco Laertes.
No comportamento a mudança foi na mesma direção. O mundo masculino ficou gay. Os homens falam, andam e dançam de uma forma que seria inaceitável nos anos 50. A tendência geral é de feminização. Os heterossexuais ficaram mais suaves nos seus modos. Ou mais estridentes. Mais delicados, certamente, de um jeito que nossos pais e avós estranhariam. É comum que homens nascidos nos anos 60 conversem com caras 20 ou 30 anos mais novos e tenham a impressão de que eles são gays – pelo jeito de falar, pela linguagem corporal, por causa da atitude. A mudança de códigos foi muito rápida e muito profunda. A agressividade e a grosseria, que anos atrás eram a marca registrada de certa masculinidade, caíram em desuso. São mal vistas. Viraram quase um sinônimo de escrotidão. Há nisso uma influência benéfica da cultura gay. Ela modificou e amoleceu a cultura masculina, por outro lado

No livro “Cuidado! Seu príncipe pode ser uma Cinderela”, que foi lançado  pela Editora Best-Seller  propõe que as mulheres parem de ser tão ingênuas e deixem ligado o seu “gaydar”: radar de gay. Para evitar que “elas caiam de quatro” para o aparente príncipe encantado e sofram uma decepção posterior que deixa marcas dolorosas na autoestima.
“Muitos gays se casam, têm filhos e passam a levar uma vida dupla pra lá de deplorável. São pessoas confusas que, sem a coragem de se assumir, ainda assim são individualistas e sem caráter a ponto de carregar uma mulher como sua refém sentimental pela vida afora. Ou pior: apenas para manter as aparências.”

Afinal biba no armário não é um fenômeno que atravanca somente a vida de mulheres disponíveis. É biba que atravanca a vida de outras bibas também. Se está no armário, tem medo de quê?”
Mesmo num mundo com menos preconceito, muitos homens ainda não se assumem homossexuais. Podem ser homens públicos, políticos, profissionais liberais ou diplomatas, receosos das leis rígidas do prestígio social e do poder. Existem e nós conhecemos vários, não é? Podem ser também homens nada públicos, mas inseguros e mal resolvidos. Dá para entender a dificuldade de assumir. Mas é quase impossível aceitar que alguns resolvam mentir para si mesmos e para o mundo eternamente. O livro se baseia em histórias verdadeiras de mulheres que achavam estar apaixonadas por um cara perfeito, sensível, elegante, vaidoso – embora um pouco morno na cama. E um dia o flagraram com outro ou simplesmente ouviram dele o que podiam suspeitar mas se recusavam a enxergar. “Querida, vou deixá-la. Porque estou apaixonado pelo fulano”.
Não pensem que o livro é uma teoria acadêmica. Longe disso. É muito engraçado e irônico. E você pode fazer o teste com seu homem, namorado, amante, marido, companheiro ou sei lá o quê. Tem homem que fica lendo e comemorando: “Passei em oito das 10 peneiradas!!!” (será que isso é um indício????????? )

 Aliás, eu acho que a importância do movimento gay vai além das questões pessoais. Ou de casais. Quando um sujeito ou uma mulher lutam pelo direito de fazer sexo com quem desejar – e de andar na rua vestido como quiser, abraçado a quem achar melhor – ele e ela estão lutando, intrinsecamente, pelo direito de todos serem o que são. Os ganhos pessoais e íntimos de alguns se traduz em ganho público para a comunidade inteira. Quando um grupo socialmente discriminado é reconhecido em seus direitos, quando ele ganha espaço para expressar seus gostos e sentimentos (desde que isso não aconteça em prejuízo dos outros), a sociedade inteira se torna um pouco mais livre. Há uma lógica inexorável de contágio que começa com a liberdade do indivíduo, avança para o seu grupo e se espalha para a sociedade toda – e para o mundo. Quando os sinos tocam de júbilo, eles também tocam por todos nós. Gays e não gays.

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