quarta-feira, 10 de abril de 2013

A MULHER DA MINHA VIDA

Vinícius de Moraes disse uma vez que as mulheres nunca são tão belas quanto no momento em que vão embora. É uma frase bonita que descreve uma situação triste – os homens, costumeiramente, esperam as mulheres partir para descobrirem, logo depois, que cometeram um erro terrível. A mulher que foi embora se transforma, instantaneamente, na mulher da vida deles, única e insubstituível.
As mulheres conhecem essa história de cor e salteado. Converse com qualquer uma delas e você vai descobrir que o homem bumerangue está na área desde que elas têm 14 anos. O sujeito enjoa do namoro, começa a tratar a moça mal e dá um pé na bunda dela – ou leva, depois de repetidas desatenções. Dias depois, porém, ou mesmo horas depois, lá está o mesmo cidadão ao telefone, transtornado, pedindo para voltar e usando expressões definitivas como “eu te amo”, “não sei viver sem você” e, claro, a melhor de todas, “você é a mulher da minha vida”.
Quem nunca fez esse papelão levante a mão!
Escrevo sobre homens porque esse comportamento inquieto parece ser mais comum entre nós, mas as mulheres não estão livres dele. Com o fim das convenções sociais que as obrigavam a serem fiéis e bem comportadas – mulher de um homem só, pela vida toda – elas também começam a agir como Don Juan, o sedutor serial da literatura: olham, querem, seduzem, se decepcionam, começam a sonhar de olhos abertos, terminam o relacionamento, começam tudo de novo. Feito homem. Foram contaminadas pela inquietação do amor perfeito.
Muita gente acredita que essa insatisfação permanente é a única forma real da existência humana. Dizem que relações e sentimentos duradouros seriam, na verdade, uma violência contra a nossa natureza de bichos. Afinal, não estamos sexualmente interessados em outras pessoas o tempo inteiro? Se fôssemos honestos, afirmam, teríamos de admitir que nosso desejo é múltiplo e está sempre à procura do próximo objeto. Por isso, não deveríamos estabelecer relações de exclusividade com ninguém.Sei que isso é um clichê miserável, mas o fato é que não existe uma pessoa que nos fará magicamente felizes. A tal felicidade, se existe, depende de nós. Nós deveríamos ser capazes de escolher e ficar contentes com a pessoa que escolhemos. Ou, se não for esse o caso, ao menos deveríamos estar contentes com o estilo de vida desprendido que adotamos. Tudo aqui e agora. Não adianta ser feliz no ontem, que já passou, ou no amanhã, que talvez nunca venha.

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