quinta-feira, 5 de julho de 2012

SOGRAS

Muito homem por aí não gosta de sogras. Eu gosto. Na minha experiência, as mães das mulheres ou das namoradas são forças positivas, aquele tipo de gente que contribui para que as coisas dêem certo, não errado. Não me lembro de uma única relação em que mãe de uma mulher querida constituísse um problema.

Na primeira vez que deparei com uma mãe legal achei que era acidente. Todo mundo fazia piadas sobre sogras, mas eu tinha dado sorte. À medida que o tempo foi passando, e as relações se sucedendo, ficou claro que a lenda da sogra bruxa não tinha pé na realidade. Era outro lugar comum atrás do qual não existia nada. Ou existia apenas misoginia.

Aos poucos, percebi que muito mais importante do que a figura caricatural da sogra eram as relações verdadeiras entre mãe e filha, que constituem o pano de fundo para o contato entre um homem e qualquer mulher.

Vistas de um ponto de vista masculino, que não costuma ser muito rico em sutilezas, as relações entre mães e filhas são incrivelmente complexas e intensas, carregadas de sentimentos contraditórios que ligam e às vezes repelem as pessoas pela vida inteira, de uma forma dolorosamente pendente.

Quando a gente se aproxima de uma mulher, acaba fatalmente envolvido na relação dela com a mãe. E isso é muito mais importante do que a convivência com a sogra.

Ainda adolecente, fui ao cinema com uma namorada para ver Sonata de outono, de . Quem assistiu sabe como é terrível esse filme. Uma mulher adulta tenta um acerto emocional com a mãe, pianista obcecada pela própria carreira e cheia de culpa em relação à filha problemática. O encontro das duas se transforma num duelo inconclusivo do qual ambas emergem arrebentadas e distantes.

Assim que projeção terminou, minha acompanhante sentenciou: “Agora você já sabe tudo sobre minha mãe e eu”. Fiquei chocado. Meses depois, quando conheci a mãe dela, achei que havia alguma espécie de equívoco. Como aquela senhora engraçada e solícita poderia se assemelhar ao monstro ególatra que a atriz encarnava no seu último grande papel no cinema? Descobri depois que não poderia, exceto no olhar da filha, que via a própria mãe de uma forma muito particular.

Com o tempo e com a vivência, a gente descobre que é possível se dar bem com a sogra mesmo quando ela se dá mal com a própria filha, embora a situação seja desgastante. Se a sua namorada ou a sua mulher vive às turras com a mãe dela, vai pedir seu apoio na disputa emocional, ainda que de forma velada. Não é fácil viver no meio dessa conflagração. Qualquer partido que você tome pode ser insuficiente ou excessivo, insensível ou estúpido, tudo ao mesmo tempo.

Muito mais gostoso é quando mãe e filha se adoram. O ambiente que resulta dessa cumplicidade é uma delícia. Há na casa da sogra um aconchego gostoso, um carinho entre mulheres que transborda e atinge quem caminha ao lado. Esse tipo de relação amorosa permite que você, que vem de fora, construa sem culpa relações de carinho e admiração com a sogra. Na ausência de recriminação e de veto, você pode tratar com o ser humano real, não com o monstro simbólico que ocupa a cabeça de algumas filhas cada vez que elas olham para a própria mãe.

Nas casas em que mãe e filha se gostam não há cabos de guerra permanentes e nem tensão oculta - muito menos armadilhas para o macho desatento, que são frequentes no terreno minado ao redor de mãe e filha que competem. Como você não percebeu aquela coisa horrível que a mãe dela disse no meio do almoço de domingo? Não viu como ela trata melhor o irmão da sua mulher? “Se você estivesse realmente ao meu lado perceberia que...” Pode ser difícil.

Minha reduzida experiência e capacidade de observação sugerem que as mulheres que se dão bem com a própria mãe são companhias mais fáceis. Essa é uma relação tão essencial, tão básica, que as mulheres que a tem resolvida caminham mais leves pela vida – e põem nos ombros dos seus homens uma carga menor durante o convívio.

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