sábado, 11 de agosto de 2012
SAUDADES
Olho para trás e percebo períodos existenciais muito bem delimitados. Eles são definidos por eventos emocionais que encerram um ciclo e dão início a outro. A percepção dessas fronteiras, claro, nunca é instantânea. O tempo passa, os acontecimentos se sucedem e você, um dia, nota que não é mais a mesma pessoa – seus sentimentos mudaram, suas ideias mudaram, seu mundo mudou.
Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, dóem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.
Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai e da mãe que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audacias, Dóem essas saudades todas.
Mas tem até a saudade intima particular mais dolorida é a saudade de quem se amou. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ela no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ficar o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã.Saudade é não saber.
Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Saudade é nunca mais querer saber de quem se amou, e ainda assim, doer.
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