Acompanho de longe, mas com interesse, essa onda de mulheres
sem maquiagem. Acho bonitas as fotos de artistas famosas de cara lavada que
estão aparecendo na imprensa e de mulhers anônimas no facebook. Há uma
simbologia de pureza no gesto de limpar o rosto. É como tirar a máscara, tirar
a roupa, mostrar-se de verdade. A postura me agrada, como me agradam as
mulheres que não alisam os cabelos ou não se depilam de forma exagerada. Nesse
mundinho tomado por plásticas, escovas progressivas e blogueiras de moda, há um
quê de rebeldia nessa atitude, uma espécie de basta às múltiplas exigências
sobre a aparência feminina.
Pondo de lado a sociologia, acho que a ausência de maquiagem
produz uma forma de beleza mais interessante.
A maquiagem do rosto e da alma, embora diferentes, expressam
a mesma tendência. Uniformização. Existe uma força ao nosso redor pressionando
as pessoas para ficarem iguais. Olhe em volta: não é apenas a tatuagem e os
cabelos. Não são apenas os corpos que vão se tornando indiferenciáveis. É o
comportamento, são os hábitos, os gostos. Até valores. Temos a impressão de
expressar nossa individualidade nas redes sociais, mas ao fazer isso apenas
agimos como todos os demais. Como bilhões de outros.
Se a maquiagem torna as mulheres parecidas umas com as
outras, a imitação de comportamentos em série cria padrões em escala
planetária. Em 10 anos, se continuarmos na mesma onda, as pessoas terão as
mesmas caras em dirão as mesmas coisas no mundo inteiro. Eu sou contra. Prefiro
a minha mulher de cara lavada. Prefiro as minhas ideias e as ideias verdadeiras
e originais de quem convive comigo. Somos diferentes, afinal. Temos cores,
peles, olhos e formatos diferentes. Sentimos de maneira única, reagimos de
maneira peculiar, temos cada um a sua própria história. Por que não cultivar as
diferenças que nos fazem humanos em vez de inventar semelhanças que nos
desumanizam? Fica a pergunta, sem maquiagem.
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