Na PIZZARIA da rua 15, perto de casa, prepara-se um filé com
ervilhas que me faz feliz sempre que saio para comer. Mas noto que o prato já não é
tão popular. Nas últimas vezes em que o pedi, deparei com o olhar confuso do
garçom, como se perguntasse: "Filé com quê?". Então repito:
"Filé com PETI POÁ". E mostro com o dedo: "Aqui, está no
cardápio". O pessoal da cozinha ainda lembra como se prepara o meu prato
favorito, pelo menos.
Ontem, vi uma foto de Gisele Bündchen desfilando em Paris,
de minissaia e botas. Pensei: “Que linda”. Milhões devem ter pensado a mesma
coisa. Haverá no mundo um milhão de homens,
talvez mulheres, apaixonados por ela. Gostar de Gisele Bündchen talvez
defina a vida de muitos. Gostar dela será, nesse caso, como gostar de um filme
de grande sucesso ou de um livro best-seller. Algo que se pode partilhar com
milhares ou milhões. Não é o mesmo que gostar de Maria ou João.
O gostar que nos define está ligado às entranhas de alguém,
não à imagem que projeta. Está ligado a seus sentimentos secretos, não apenas
ao que diz e faz em público. Essa conexão existe apenas entre gente de verdade,
que se define, necessariamente, de dentro para fora. O que há entre nós e a
aparência dos outros é somente fantasia e ilusão. Vale para Gisele ou para a
garota mais bonita do colégio, por quem todos parecem apaixonados. Elas não
contam como experiência única.
Aquilo que marca a biografia, aquilo que nos define, é o que
nos toca e se deixa tocar. É o que se mistura ao que somos. Pode ser a mulher
mais bonita do prédio que, vista de perto, era despretensiosa e divertida. Pode
ser a garota com cheiro de cloro, cuja intimidade era tão rica que, anos
depois, você ainda se lembrará dela com saudades. O essencial é criar vínculos
que durem. Entrar em contato. Gostar e deixar-se gostar. Permitir que o outro
nos olhe e pense: “Esse é meu amor”. Que é uma forma de dizer: “Esse é quem
sou”. Ou será que isso é tão romântico que somente Romeu diria a Julieta?
Nenhum comentário:
Postar um comentário