Amizade não deveria ser prêmio de consolação para quem não
consegue amor ou romance, mas muitas vezes é. As pessoas se aproximam
escondendo seus sentimentos – para não serem rejeitadas – e depois não sabem
como colocá-los na mesa sem que pareçam ridículos ou descabidos. Viram amigos
da pessoa que desejam, mas cheias de expectativas irrealizadas. Em termos
afetivos, isso deve dever ser pior do que não ter relação nenhuma. Certamente é
mais doloroso.
Tenho impressão que esse tipo de coisa acontece sempre com o
mesmo tipo de pessoa. Ela não é inteiramente tímida, mas tampouco é segura o
suficiente para expressar seus sentimentos com clareza. Para esse tipo de
personalidade, seja homem ou mulher, a sedução pela amizade parece sempre uma
boa solução. Ela oferece um jeito sem riscos de se aproximar e ganhar a
intimidade do outro. O problema com essa sedução enviesada é que ela acaba
sempre no mesmo impasse: como transformar o aconchego daquela amizade na tensão
emocional que desemboca no amor?
Muita gente não sabe o que é esse tipo de problema. São
pessoas que têm o talento de se aproximar deixando claras suas intenções. Nem
sempre são bem recebidas, mas ao menos não há equívoco. Todo mundo sabe o que
está rolando e para onde aquilo conduz. É direto e excitante. Não se trata de
uma abordagem inofensiva e nem pode ser confundida com amizade. Mas ela sempre
traz para quem toma a iniciativa o risco de fazer papel de bobo. É um risco que
certos egos estão dispostos a correr. Outros não.
Nem todo mundo sabe chegar chegando, sem parecer escroto ou
piriguete. A maioria de nós começa a conversa como pode, nos limites da
situação e da personalidade. Só mais tarde, lá na frente, vai perceberque se chama de
zona da amizade.
tenho uma teoria, Quando a atração
existe, ela permeia qualquer papo. Aos poucos, o ritmo da fala vai mudando e os
corpos se aproximam. Pode não acontecer tudo hoje, mas uma hora acontece – se
houver reciprocidade.
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