quarta-feira, 14 de outubro de 2015

BEM ESTAR

Uma  vizinha sempre que a gente se encontra  gosta de me lembrar quanto pareço feliz desde que me casei. A gente se encontra em reuniões de família   e ela, invariavelmente, observa que continuo com o sorriso dos homens apaixonados. Eu rio, embaraçado e contente, e conversamos um pouquinho. Além de gentil e afetuosa, minha vizinha é romântica. Ela perdeu o marido há pouco tempo, depois de um casamento de 30 anos, e projeta nas pessoas ao redor um pouco da felicidade que viveu. Ao agir assim, de maneira tão doce, ela me lembra que as pessoas dão ao mundo aquilo que receberam. Pode ser amor e gentileza, pode ser o contrário. Isso é muito claro quando a gente entra na intimidade de um relacionamento. Em pouco tempo, começamos a perceber do que a outra pessoa é feita.
A experiência  sugere que a gente não escolhe por que tipo de pessoa se apaixonará. Quando se dá conta, já aconteceu - e estamos envolvidos, até o pescoço, com alguém que pode ser muito difícil de amar, por ter as piores experiências no assunto. Nenhum de nós tem currículo perfeito nesse tema.
Tendo vivido e convivido com pessoas muito diferentes, me é claro como a experiência amorosa  produz diferentes atitudes diante do amor - e como essas atitudes são modificadas pelas experiências da vida adulta. Quando começamos a nos relacionar eroticamente, somos adolescentes. Levamos para os braços do outro, quase intactas, nossas questões infantis e familiares. À medida que a gente cresce e vai tendo outras experiências, os sentimentos evoluem. Ninguém está pronto e acabado aos 20 ou aos 40 anos. Nem aos 70, acho.
A impressão de não ser a criança mais amada do mundo pode diminuir ou aumentar nos primeiros envolvimentos. A sensação adolescente de ser o centro das atenções ou de ser rejeitado pelo mundo pode ser negada ou confirmada por um grande amor. O medo e a insegurança podem ser ampliados numa sequência de relações instáveis, ou reduzidos por um relacionamento intenso, seguro e duradouro. A vida não para de nos formar. Quem a gente escolhe para estar a nosso lado tem papel fundamental nessa formação.

Por isso tudo, a atitude da minha vizinha me parece tão bonita. Ela sabe, por ter vivido, que as pessoas se transformam pela experiência do amor. eu acabara de ter uma briga estúpida e desnecessária com minha mulher. A conversa com minha vizinha , na saída para trabalho, me ajudou a lembrar quanto gosto e quanto essa relação é importante para mim. Horas depois, peguei o telefone e liguei para pedir desculpas. Talvez fizesse isso de qualquer maneira, mas gosto de pensar que minha vizinha me ajudou a lembrar que fazer as pazes era urgente e necessário.

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