O titulo acima é sexo em alemão
Lembro
de uma conversa na cozinha em que uma moça me explicava, enfaticamente, que
sexo para ela era sagrado, uma troca cósmica de energia. Não, eu respondi, sexo
é profano, que começa na troca de olhares e termina na cama. É claro que ao
final da conversa não houve sexo entre a moça e eu. O profano e o sagrado
raramente se misturam.
Cada um
de nós tem uma concepção particular do que o sexo significa, mas eu acho que
existem duas grandes visões sobre o assunto que se misturam na nossa vida e
mesmo dentro de nós, alternadamente.
Alguns
sentem que o sexo aproxima as pessoas; outros acham que afasta. Quem acha que o
sexo afasta, vê nele apenas uma forma de prazer esgotável. Gozou, tchau. Quem
acha que aproxima, percebe o sexo como algo ligado aos sentimentos, parte de
uma coisa mais duradoura. Não acha que o gozo encerra tudo.
A que
grupo você pertence?
Eu acho
que o sexo é antes de mais nada uma busca não declarada por envolvimento
emocional. Prazer físico a gente obtém melhor sozinho. Sexo é um instrumento de
conexão, algo mais fundamental à nossa existência do que o próprio gozo. Para
nos conectar temos de mergulhar no outro, ser aceito por ele, refastelar-se na
emoção de dar e receber prazer. Depois de uma longa sessão de libidinagens e
beijos na boca, emergimos modificados. É impossível olhar para a pessoa ao lado
e não sentir afeto. Esse sexo aproxima.
Frequentemente,
porém, os corpos e as cabeças não se entendem. O sexo fica banal, besta,
acrobático. Ou pífio. Cada um na sua de olhos fechados. Gente dançando em salas
diferentes, ao som de músicas distintas. Não se fez a conexão, por algum
motivo. Esse sexo afasta. Talvez role num outro momento, quem sabe com outra
pessoa. Não fomos feitos para transar a toda hora com qualquer um.
Como
escolhemos com quem desejamos estar, usamos o sexo para construir relações. É
um jeito de se aproximar radicalmente de quem nos interessa. Há o impulso do
prazer nessa aproximação, mas logo abaixo dele corre a busca por afeto, como um
rio subterrâneo. A gente não quer apenas tocar o corpo da pessoa que nos atrai.
Queremos ser amados e desejados por ela. Nosso tesão, mesmo o mais visual e
instantâneo, tem um pedaço enorme de puro sentimento.
Nas
mulheres esse impulso é mais visível, mais anunciado. Faz parte da cultura
feminina. Entre os homens o assunto é mal resolvido. O sujeito corre atrás de
afeto e atenção desesperadamente, mas diz para todo mundo (e para si mesmo) que
quer apenas transar. Em alguns casos talvez seja verdade, mas eu duvido. Trocar
de parceiras o tempo todo faz bem para o ego, mas deixa um buraco. O essencial
não é contemplado.
Por causa
desses desencontros, as pessoas se perguntam se o sexo deve acontecer no
primeiro encontro ou deveria vir depois. Eu acho que não tem importância.
Conheço
casais felizes que começaram no banheiro de uma balada e casais tristes que
transaram depois de meses de preparação. Não há regra. Para alguns o sexo
acontece naturalmente no primeiro encontro. Para outros, tirar a roupa vem só
depois, quando foi estendida uma rede de segurança emocional. O essencial é não
agir e não levar o outro a agir fora do seu tempo e do seu estilo de vida. Isso
machuca e afasta.
Tenho
pensado, ultimamente, que não há nada de errado em respeitar o próprio
andamento e dar um tempo antes de se meter na cama com os outros. Sem
moralismos. Pode ser o caso apenas de conversar mais, conhecer melhor, deixar a
vontade crescer. Por que tanta pressa, afinal? Um pouco mais de convívio pode
resultar em sexo que aproxima, em vez de sexo que afasta.
Minha
impressão é que o sexo ligeiro ou pornográfico que nos é oferecido em larga
escala não atende as expectativas emocionais das pessoas adultas. Serve aos
adolescentes que estão descobrindo a vida, assim como serve a quem está num
intervalo entre relacionamentos. Mas poucos ficam satisfeitos com a perspectiva
de viver indefinidamente de transas superficiais. Com esse tipo de dieta
afetiva, qualquer alma sensível morre de fome.
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