quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

A ARTE DA MAGISTRATURA


Já me decepcionei muito assistindo audiências nos tribunais, mas em uma audiência na justiça do trabalho me senti subitamente representado Estava ali personificado a figura exemplar de um juiz.Ser um bom juiz resulta de um tipo de sabedoria que não se aprende somente em livros técnicos. Nem decorre de uma progressiva conquista de graus acadêmicos. É algo maior e mais profundo. O juiz que fará bem a seus semelhantes e trabalhará pela dignidade da vida, ao contrário de complicar e piorar as coisas, será aquele capaz de ouvir e respeitar as pessoas nas suas intransferíveis circunstâncias. Coisas como rancor, agressividade, excesso de vaidade, cinismo, indiferença e fanfarronice não combinam com a toga.estava ali na minha frente uma pessoa de Um temperamento humilde, diferente de subserviente ou arrogante, disposto a respeitar, mais do que tolerar, as diferentes visões de mundo, é sempre muito importante. Ninguém é dono do conhecimento e da verdade. O que vi na primeira vara do trabalho de araruama muito me impressionou, sei que não existe modelo pronto de juiz. O magistrado terá de construir o seu. Por outro lado, não faltam exemplos de pessoas que dignificam a profissão. Pensar de modo mais criativo e humanista o ingresso na magistratura, e a própria construção do Poder Judiciário brasileiro, é o desafio que temos em tempos tão difíceis. A dura realidade exige magistrados mais participantes e comprometidos com o bem-estar da sociedade. Cada vez mais o Judiciário é chamado a decidir sobre situações que afetam a vida de todos. Montesquieu, em O ESPÍRITO DAS LEIS, discorrendo sobre a tutela da liberdade, com acuidade observou: “Não haverá também liberdade se o poder de julgar não estiver separado do Poder Legislativo e do Executivo. Se estiver ligado ao Legislativo, o poder sobre a vida e a liberdade dos cidadãos seria arbitrário, pois o Juiz seria legislador. Se estivesse ligado ao Executivo, o Juiz poderia ter a força do opressor”. Por isso, a ninguém deve interessar o enfraquecimento do Judiciário e o mau disso, mostra a história das nações, inclusive da nossa, pois é a última cidadela contra o arbítrio, a ilegalidade, o abuso de poder e a injustiça. As dores e os dramas das pessoas chegam ao Judiciário a toda hora em todos os dias do ano. O que se pede ao juiz não é que seja um super-herói, mas que aja como um ser humano sensível, e saiba olhar com os olhos do coração, com a mesma empatia com que esperamos ser tratados nas horas difíceis.

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