segunda-feira, 27 de julho de 2020

AMIZADE


Por que não mantemos as mesmas amizades desde a infância, desde o colégio, desde a faculdade? Por que permitimos que aquele grupo do bairro, da igreja e do trabalho se dispersasse? Por que os amigos se vão, ou nós nos afastamos deles? Eu não sei. O que eu sei, com base na minha limitada experiência, é que grupos de amigos repetidamente se desfazem, as relações pessoais se esgarçam e, com o passar do tempo, as reuniões vão ficando menores. Num dado momento a lista dos íntimos começa a caber nos dedos das mãos. Sei também que não há nada de errado nisso. A vida é impulsionada por uma força de mudança que não isenta as relações de amizade. Os amigos mudam como muda todo resto, Todos sentimos a mesma aflição. A ideia de envelhecer é assustadora. A solidão é um buraco escuro e frio. Mas a festa permanente é uma alternativa insustentável. Sempre chega o momento em que a música acaba, todo mundo vai embora e alguém fica sozinho na calçada. Conheço gente que tenta, ativamente, manter amizades antigas. Promovem festas, fazem encontros, se empenham em telefonar, saber, contar, encontrar. Acho louvável, acho bonito, mas suspeito que a vida tenha uma inércia que se opõe a essa resistência. Quando a enxurrada da mudança nos leva em direção contrária à vida do outro, não adianta amarrar uma corda. Uma hora o vínculo se rompe e as pessoas se afastam. Fica o carinho e uma enorme nostalgia.

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