sábado, 23 de junho de 2012

GERAÇÃO TIPO



Saiu na revista Time desta semana uma notícia capaz de apavorar os tradicionalistas: nos Estados Unidos, as mulheres entre 20 e 30 anos estão ganhando mais dinheiro do que os homens na mesma idade. Não se trata de uma projeção sobre o futuro. Está acontecendo já, neste momento. Sem fazer barulho, as garotas americanas ultrapassaram os caras na competição por salário e renda. Faz alguns anos que elas vinham se dando melhor na escola e, mais recentemente, começaram a se diplomar em maior número, mesmo em carreiras tradicionais como medicina e direito. Agora, começaram a ganhar mais. Se não houver alguma interrupção imprevista, a mudança vai se aprofundar e permanecer.

Alguns talvez fiquem surpresos com a notícia. Eu não. Nos últimos anos, tenho visto levas de garotas talentosas e dedicadas chegar aos ambientes de trabalho armadas com sorrisos perfeitos – uma marca cintilante dessa geração – e de uma atitude profissional que varia do sutilmente insolente ao descaradamente insubordinado. Elas são bem preparadas, têm ambição de subir na vida e trabalham duro. Pode demorar mais tempo, mas a tendência é que elas repitam aqui no Brasil o que já estão fazendo nos Estados Unidos – virando o jogo.

Deixo aos economistas e sociólogos a tarefa de especular sobre as consequências práticas dessa mudança. Da minha parte, além de bater palmas (levemente aturdido), só tenho a declarar minha preocupação com os impactos afetivos da nova situação.

Eu me pergunto o que vai acontecer nas relações entre homens e mulheres quando elas se tornarem as donas do dinheiro e dos empregos de prestígio. Como se comportarão os homens quando elas – e não eles - tiverem o dinheiro necessário para pagar a conta do restaurante, reservar hotéis e comprar carros? O que vai acontecer quando o salário das mulheres for o maior na maioria das casas e o emprego masculino se tornar o menos importante da família? Será que os homens ficarão em casa quando as crianças estiverem doentes ou não puderem ir à escola por qualquer outra razão? Imaginem...
Nós fomos criados para ser o capitão do time, o comandante da tropa e, ao menos materialmente, o chefe da família. Quando essas coisas mudam, algo se altera dentro de nós, e pode não ser para melhor. Um homem que perdeu o seu lugar de prestígio social pode não ser o homem a que as mulheres estão acostumadas ou desejam. Em tese, as garotas são educadas a procurar nos homens características que denotem segurança e sucesso. Se elas são atraídas por machos alfas, o que acontecerá quando elas, em toda parte, forem mais alfas do que eles?
meninas de 20 anos que estão por ai - que eu costumo chamar de “Geração Tipo”, por causa daquela palavrinha que se repete a cada meia dúzia de palavras que elas falam... – são muito mais independentes e assertivas do que as garotas da mesma idade da minha geração. Claro, sempre houve mulheres de personalidade, mas elas nunca foram tantas como agora, ou nunca se mostraram tão claramente. Os caras da idade delas estão acostumados. Eles convivem, conversam, discutem e (quando crianças) até saem no braço como iguais. As relações afetivas se desenvolvem desde cedo num contexto em que a dominação masculina é mais frágil, ou mesmo inexistente. Para mim, as mudanças de comportamento das garotas parecem drásticas e repentinas, para os homens jovens são parte do mundo em que eles cresceram. Eles se apaixonam por essas mulheres imperativas desde a adolescência – e parecem estar perfeitamente adaptados a elas. As garotas da Geração Tipo, concientemente ou não, estão criando as condições de mudança. Com seus sorrisos cintilantes e seus modos às vezes abruptos, elas vieram para mudar o mundo. Espera-se que em benefício delas mesmas e também dos homens.

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