Christine Lagarde, a francesa que dirige o Fundo Monetário Internacional. Mas
enquanto a economista famosa do Fundo é alta e magra, a mulher da minha vida,
e bem brasileira – pernas grossas, quadris
largos – exceto pelos cabelos brancos, na altura do pescoço. Todo mundo sabe que
não há brasileiras de cabelos brancos. Não antes dos 70 anos, quando a idade se
torna indisfarçável. Mas a minha mulher tem menos de 50, é atraente e se
move como alguém muito segura de si, ela me diz que as amigas
criticaram, algumas pessoas estranhavam, mas ela é feliz , essa história parece de alguma forma tocante? A mim parece.
Desde que eu tenho 20 anos, as mulheres à minha volta nadam num mar de tintura.
Quando uma delas se rebela e reinventa a própria beleza, na contramão da
Wellaton, eu aplaudo. Como bom observador, me acostumei a ver n
mulheres bonitas de cabelos brancos. Bem vestidas, bem tratadas, parecendo muito
bem amadas mas isso so filmes e na europa, e de cabelos brancos. Aqui, não. De jeito algum. AQUI fio branco é
anti-higiênico, para esconder meia dúzia deles as mulheres começam a pintar a
cabeça inteira desde os 30 anos, senão aos 20 e poucos. Assim se vão, muito
antes da hora, o brilho, a textura e a cor natural inimitável dos cabelos. Para
quê?
As Mulheres dizem que chega uma hora que a mulher sente uma vontade incontrolável de mudar, de se ver
diferente “Daí corta ou pinta os cabelos.” Sendo homem, essas
explicações me parecem emocionalmente incompreensíveis. Não há em mim o desejo
irrefreável de mudar de aparência. E se ele, por acaso, aparecesse, eu rasparia
a barba ou faria um corte de cabelo (moderado) no salão da esquina. A vida
psíquica e social dos homens parece mais simples.
Mas eu não acho que a
questão se resuma a uma diferença de gênero: em Vênus se pinta o cabelo, em
Marte (quase) não. Há também uma questão temporal, que diz respeito à
auto-imagem e à idade das pessoas envolvidas.
Às vezes eu gostaria de pode
explicar para as garotas que “precisam mudar” algumas coisas que a gente só
aprende com o tempo. Uma delas, absolutamente visceral, é que a aparência da
juventude é uma dádiva insubstituível. As pessoas jovens e saudáveis são bonitas
e raramente se dão conta disso. Elas vivem preocupadas com este ou aquele
aspecto de si mesmas – o nariz, o cabelo, a cor, o peso -, mas quem olha de fora
nem percebe os tais “defeitos”. A beleza delas é como um outdoor de 50 metros
plantado no meio do deserto. Chama atenção, atrai os olhos, causa admiração. É
uma pena que os jovens preocupados em sofrer ou em mudar sua aparência nem
notem isso.
Qual a relação disso
tudo com os cabelos brancos da minha companheira ? É íntima, por
duas razões.
A primeira é que as mulheres que começam a pintar o cabelo
desde cedo perdem um pedaço da sua própria existência. A beleza do cabelo jovem
que começa a mudar de cor (aos 20, aos 30 ou aos 40 anos), é substituída,
subitamente, pelo artifício da tinta, com resultados nem sempre felizes. Na
pressa de esconder a mudança, as mulheres a escancaram e perdem as gradações
sutis do tempo, que, nos homens, por mera convenção, são consideradas atraentes.
Neste momento, eu mesmo estou vendo o meu cabelo ficar acinzentado e acho
bonito, provavelmente porque as pessoas ao meu redor dizem que é bonito. Talvez
seja hora das mulheres ouvirem o mesmo.
A outra razão é menos sutil.
Ao
ver os cabelos brancos da minha mulher , eu fui tomado instantaneamente
pela beleza daquilo. O rosto maduro, queimado de sol, ficava mais bonito na
moldura dos cabelos brancos. O contraste entre os olhos grandes e verdes, o corpo
vigoroso e os cabelos cor de prata era sensacional. Ela fica mais bonita
desse jeito, tenho certeza, do que estaria “loira” ou “morena”. Da mesma forma
como o George Clooney ou José Maier parecem mais bonitos nas fotos de hoje,
grisalhos, do que pareciam antes.
O tempo frequentemente faz bem aos homens e
às mulheres. Arredonda as formas, suaviza os ângulos, altera as cores como a luz
intensa do meio dia vai dando lugar aos tons da tarde. Uma das tarefas da gente
deveria ser descobrir essa luz e a suas novas possibilidades à medida que a vida
avança.
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