sexta-feira, 16 de novembro de 2012

SUAVIDADE MASCULINA

Se você olhar uma rua da zona sul do rio hoje,você não distingue mais o gay do não gay. Além de se vestir de forma parecida, homens gays e heteros estão igualmente malhados, bem definidos, de corpo cuidado. A vaidade que antes era feminina e depois virou gay agora é descaradamente masculina. Há caras perfeitamente macho que depilam o peito, tiram a sobrancelha, cuidam das unhas, fazem mecha nos cabelos. São os metrosexuais, que viraram referência para homens de todas as idades. Um cidadão conservador  desembarcasse subitamente no rio de janeiro vai observar que metade dos homens se parece com mulher. Do ponto de vista dele, seríamos todos um pouco fanta.
No comportamento a mudança foi na mesma direção. O mundo masculino ficou gay. Os homens falam, andam e dançam de uma forma que seria inaceitável nos anos 50. A tendência geral é de feminização. Os heterossexuais ficaram mais suaves nos seus modos. Ou mais estridentes. Mais delicados, certamente, de um jeito que nossos pais e avós estranhariam. É comum que homens nascidos nos anos 60 conversem com caras 20 ou 30 anos mais novos e tenham a impressão de que eles são gays – pelo jeito de falar, pela linguagem corporal, por causa da atitude. A mudança de códigos foi muito rápida e muito profunda. A agressividade e a grosseria, que anos atrás eram a marca registrada de certa masculinidade, caíram em desuso. São mal vistas. Viraram quase um sinônimo de escrotidão. Há nisso uma influência benéfica da cultura gay.
Essas mudanças, evidentemente, chegaram ao campo dos sentimentos e da intimidade
Os homens agora choram sem vergonha nenhuma. Confessam seus sentimentos de um jeito até embaraçoso. Eles ficaram frágeis. As mulheres dizem, ironicamente, que estão com saudades daqueles tipos sisudos e caladões, de sentimentos inescrutáveis. Eles sumiram. Agora os homens são sensíveis. Falam pelos cotovelos e estão cheios de dúvidas e temores. Muitos dão excelentes donos de casa, tremendos pais, cozinheiros de primeira linha - e ainda são ótimos companheiros para fofocar e assistir à novela. Umas moças, enfim, mas com quem as mulheres podem transar gostosamente, uma vez que eles têm uma relação melhor com a própria cabeça e o próprio corpo. Aquele outro tipo, o macho à la Clint Eastwood, estava sufocando seus sentimentos mais viscerais, tinha coisas demais a reter e a esconder. Além de falhar na cama nas horas mais inesperadas, ele era uma panela de pressão pronta a explodir. Ou a ter um AVC ou um enfarte aos 40 anos. Aliás, eu acho que a importância do movimento gay vai além das questões pessoais. Ou de casais. Quando um sujeito ou uma mulher lutam pelo direito de fazer sexo com quem desejar – e de andar na rua vestido como quiser, abraçado a quem achar melhor – ele e ela estão lutando, intrinsecamente, pelo direito de todos serem o que são. Os ganhos pessoais e íntimos de alguns se traduz em ganho público para a comunidade inteira.

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