Há gente que nós temos vontade de ver todos os dias, cuja
presença nos deixa naturalmente mais alegres. Temos prazer enorme em abraçar
gente assim e a conversa com elas é mais íntima, mais fácil, mais interessante.
Uma alma destituída de malícia diria que isso é amizade, mas eu tenho certeza
que se trata de uma forma de erotismo – sem posse, sem dor, sem pressa, mas é
desejo que resiste ao tempo. Essa não é uma forma de definir o amor?
Não nos sentimos enamorados de todo mundo, mas tampouco
temos esse tipo de apego por uma única pessoa. São várias. Pode ser a
ex-namorada do colégio, a amiga da faculdade, a prima. Pode ser a garota da
livraria ou a moça do bandejão que virou sua amiga. A lista não será grande,
mas é uma pena, porque se trata de um sentimento bom. Não é gostoso ficar feliz
quando toca o telefone?
Você não sai transando com essas pessoas, embora pudesse
fazê-lo. Você não sofre por essas pessoas, embora possa ter acontecido. Essa
relação navega entre o encantamento e a amizade, tem um pouco das duas, e fica
a centímetros de se tornar inteiramente uma delas. Movemo-nos entre sutilezas.
O que você faz com alguém que ama difusamente é ter momentos
de troca e carinho, que carregam uma ponta secreta de expectativa. Se um dia
você bebe demais e diz sinceridades comovidas, ela pode rir, beijar você ou
ficar brava e mandar que se comporte – mas tudo seguirá como antes. Nessa
relação há espaço para ser você mesmo.
Ando convencido que a nossa vida afetiva tem uma espécie de
centro e que nele só cabe uma pessoa de cada vez. As nossas grandes aventura
emocionais, a nossa verdadeira história íntima, são escritas ao redor dessa
exclusividade. Pode ser uma paixão que não deu certo ou um casamento fabuloso
de 20 anos, mas continua sendo uma narrativa entre duas pessoas. O resto é
tumulto.
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