Quando a pessoa que você ama vai embora, o mundo ao seu
redor desaba. É difícil dormir, é pior acordar, comer torna-se um fardo e
conviver um inferno. Nesses momentos de dor absoluta, em que a ausência do
outro nos sufoca, somos capazes de coisas absurdas para ter de volta nosso
objeto de desejo. Ligar, escrever, se
humilhar, rastejar e pular nos braços de estranhos são apenas os primeiros
movimentos da sinfonia. Lá pelo final da música, se nada funcionar, podemos nos
encontrar de joelhos diante de Mãe Cidinha, implorando, com os olhos cheios de
lágrimas - e um cheque na mão -, pela solução do nosso problema.
Se pais e mães de santo cuidassem de nossos interesses de
longo prazo, fariam diferente.
Olhariam nos nossos olhos encharcados e diriam, com a
autoridade daquele voz de outro mundo, para esquecermos quem nos machuca e
partirmos para outra. Em apoio sobrenatural ao nosso esforço, fariam um
despacho com intuito de desamarrar nossos sentimentos de forma definitiva. O
feitiço teria força suficiente para empurrar o ex-amor para bem longe da nossa
vida. Onde já se viu trazer fantasma, encosto e morto vivo para dentro de casa?
Se você está rindo, não deveria. A dor de cotovelo é uma das forças destrutivas
do planeta. Diariamente, ela consome as energias de milhões de pessoas, em
todas as geografias e idiomas. Pior ainda, é uma doença da qual muitos doentes
não querem se livrar. Há gente abandonada que adota comportamento de viciado:
sabe que “aquela pessoa” faz mal, mas corre atrás dela.
É essa estúpida epidemia de masoquismo que os anúncios do
poste alimentam. Eles oferecem a droga da esperança para quem ficou dependente
de um amor que não existe. Deveriam?
Um dos momentos gloriosos das nossas vidas tão breves acontece
quando deixamos para trás uma obsessão amorosa. Depois de meses ou anos tomada
por outra pessoa, nossa mente enfim reencontra o prazer de estar em paz,
sozinha. Retomamos a nossa vida e o prazer de desfrutá-la. As outras pessoas,
que pareciam mortas, voltam a nos interessar. Em algum momento – sublime
renascimento - a gente até se apaixona de novo, e ensaia a dança da felicidade.
Tudo na nossa vida é medido com a régua do tempo. No caso do
amor que deu errado, não é diferente: o sofrimento de ser rejeitado passa, uma
hora passa, como todo o resto já passou. Mas quem disse que é fácil?
Eu me lembro – todo mundo lembra – como é difícil deixar de
procurar alguém que se deseja. É desumano querer quando não nos querem. A gente
lembra do rosto, pensa nos detalhes do corpo, quer a atenção daqueles olhos.
Mas eles não olham mais para nós. E dói.
Algum tempo depois, porém, as coisas mudam. Aos poucos,
mantida a devida distância e o silêncio, quem sofre esquece de quem faz sofrer.
Lembra uma vez por dia, depois uma vez por semana, até que uma hora esquece. Ou
quase. Numa manhã de domingo, vê o fantasma na rua e quase não se incomoda. A
visão causa um pequeno rebuliço interior, mas aquele ser humano deixou de ser
nossa catástrofe privada. Virou detalhe, como diria o Roberto Carlos. De alguma
forma, passou.
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