sexta-feira, 26 de julho de 2013

DINHEIRO OU AMOR






Ponha-se no lugar da moça que eu conheço. Ela tem quarenta  anos, gostaria de casar, mas o homem por quem está apaixonada não tem onde cair morto. É um sujeito culto, inteligente, idealista, sem a menor vocação para ganhar dinheiro.  parece feliz em andar de ônibus e comer fora em lugares baratos, apesar de estar chegando aos 40 anos.
O pai dela foi um provedor dedicado e um marido amoroso, que criou as filhas com desvelo, para viver e casar bem. Ela admite que, no fundo, gostaria de encontrar um homem prático e bem sucedido como o pai para começar sua própria família, mas, ao mesmo tempo, sente que ama o professor de olhos tristes. Se eles vierem a casar, está claro que viverão do salário dela, que é bom. Ela hesita. Diante da possibilidade de se tornar a provedora da casa, a primeira na história da sua família, ela morre de medo. Não era bem assim que começava a história do Príncipe Encantado.
Eu imagino que nos próximos anos um número cada vez maior de mulheres vá enfrentar o mesmo dilema.
Elas trabalham duro, acabam ganhando bem e, lá adiante, quando a vida permite uma pausa para pensar em família & casamento, descobrem que nem sempre as circunstâncias a colocam diante de caras com a mesma história de sucesso econômico. O passo lógico seria abraçar a situação como ela se apresenta, fazer o que os homens fizeram por séculos, e ainda fazem, com absoluta naturalidade – tomar pra si a responsabilidade econômica pela pessoa que ama e pela família que vier a resultar dessa união.  Lembro de ter lido, tempos atrás, uma entrevista com jovens executivas que ilustra de forma extrema essa atitude. Todas elas, diante da pergunta sobre a possibilidade de se juntar a um homem com menos dinheiro, negaceavam. Uma delas dizia, com todas as letras, que não aceitaria um sujeito que houvesse conseguido menos do que ela na vida. A única medida de sucesso que ela parecia perceber era dinheiro, patrimônio, renda. Se o sujeito tivesse acumulado uma cultura imensa, se carregasse uma história de vida extraordinária, se fosse feliz, intenso, engraçado, brilhante ou sensual, nada disso parecia contar. Fiquei com a impressão de que a jovem executiva cogitava para si mesma uma fusão comercial, não uma parceria afetiva. Talvez antes de envolver-se com alguém ela requisitasse os serviços de uma empresa de consultoria...

Ao me perguntar o que há por trás dessa atitude, eu percebo algumas coisas, nem todas elas frívolas. Talvez não haja muitas mulheres dispostas a bancar um homem desses, porém. A maioria talvez prefira a relação com um tipo convencional, com mais jeito de provedor. Esse negócio de ser o chefe econômico da casa, afinal, não é moleza. O estresse que vem com a posição é enorme, dura décadas, e no final rouba uns 10 anos de vida de quem o abraça. É um preço que os homens vêm pagando há muitas gerações. Eles escolhem a mulher com base apenas nos seus sentimentos e desejos, sabendo que terão de trabalhar duro, provavelmente pelo resto da vida, para cuidar da família que fizerem com ela. Não é uma opção fácil, como a minha amiga está percebendo, mas tem suas gratificações. Exige coragem, porém. No caso das mulheres, a coragem adicional de desafiar convenções e de romper com os preceitos da própria cabeça.

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