Ponha-se no
lugar da moça que eu conheço. Ela tem quarenta anos, gostaria de casar, mas o homem por quem
está apaixonada não tem onde cair morto. É um sujeito culto, inteligente,
idealista, sem a menor vocação para ganhar dinheiro. parece feliz em andar de ônibus e comer fora
em lugares baratos, apesar de estar chegando aos 40 anos.
O pai dela
foi um provedor dedicado e um marido amoroso, que criou as filhas com desvelo,
para viver e casar bem. Ela admite que, no fundo, gostaria de encontrar um
homem prático e bem sucedido como o pai para começar sua própria família, mas,
ao mesmo tempo, sente que ama o professor de olhos tristes. Se eles vierem a
casar, está claro que viverão do salário dela, que é bom. Ela hesita. Diante da
possibilidade de se tornar a provedora da casa, a primeira na história da sua
família, ela morre de medo. Não era bem assim que começava a história do
Príncipe Encantado.
Eu imagino
que nos próximos anos um número cada vez maior de mulheres vá enfrentar o mesmo
dilema.
Elas
trabalham duro, acabam ganhando bem e, lá adiante, quando a vida permite uma
pausa para pensar em família & casamento, descobrem que nem sempre as
circunstâncias a colocam diante de caras com a mesma história de sucesso
econômico. O passo lógico seria abraçar a situação como ela se apresenta, fazer
o que os homens fizeram por séculos, e ainda fazem, com absoluta naturalidade –
tomar pra si a responsabilidade econômica pela pessoa que ama e pela família
que vier a resultar dessa união. Lembro
de ter lido, tempos atrás, uma entrevista com jovens executivas que ilustra de
forma extrema essa atitude. Todas elas, diante da pergunta sobre a
possibilidade de se juntar a um homem com menos dinheiro, negaceavam. Uma delas
dizia, com todas as letras, que não aceitaria um sujeito que houvesse
conseguido menos do que ela na vida. A única medida de sucesso que ela parecia
perceber era dinheiro, patrimônio, renda. Se o sujeito tivesse acumulado uma
cultura imensa, se carregasse uma história de vida extraordinária, se fosse
feliz, intenso, engraçado, brilhante ou sensual, nada disso parecia contar.
Fiquei com a impressão de que a jovem executiva cogitava para si mesma uma
fusão comercial, não uma parceria afetiva. Talvez antes de envolver-se com
alguém ela requisitasse os serviços de uma empresa de consultoria...
Ao me
perguntar o que há por trás dessa atitude, eu percebo algumas coisas, nem todas
elas frívolas. Talvez
não haja muitas mulheres dispostas a bancar um homem desses, porém. A maioria
talvez prefira a relação com um tipo convencional, com mais jeito de provedor.
Esse negócio de ser o chefe econômico da casa, afinal, não é moleza. O estresse
que vem com a posição é enorme, dura décadas, e no final rouba uns 10 anos de
vida de quem o abraça. É um preço que os homens vêm pagando há muitas gerações.
Eles escolhem a mulher com base apenas nos seus sentimentos e desejos, sabendo
que terão de trabalhar duro, provavelmente pelo resto da vida, para cuidar da
família que fizerem com ela. Não é uma opção fácil, como a minha amiga está
percebendo, mas tem suas gratificações. Exige coragem, porém. No caso das
mulheres, a coragem adicional de desafiar convenções e de romper com os
preceitos da própria cabeça.
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