Muitas vezes quase me deprimi, por não conseguir entender
direito as lições de dosimetria. Como é que se calcula de maneira justa e
correta as penas para um réu.quem assistiu o Mensalão, pela TV, não pode tirar
outra conclusão: os ministros realmente têm uma dificuldade congênita no trato
com a tal de dosimetria. Dosimetria para eles é grego. Também pudera, eles têm
domínio é do latim.
Diante dessas dificuldades intransponíveis na cominação das
penas básicas e das exacerbações acréscimos por agravantes, continuidade
delitiva e outros fatores, as penas vão alcançando números, que chegam às raias
do absurdo. Alguma conclusão que foi conseguida pela aplicação de silogismos,
mas que no seu todo, no resultado final, perde a vinculação com a própria
lógica que a orientou.
Como é que pode caber na cachola, de um leigo ou de um
técnico, que um subordinado na execução de um crime, pegue uma pena maior do
que o chefão do episódio. O crime por associação (quadrilha, bando etc.) não
poderia obedecer à lógica do crime praticado individualmente.
Explico melhor: O Procurador Geral da República, Roberto Gurgel,
foi o primeiro a dizer de cátedra que José Dirceu comandou o maior esquema de
corrupção da história, ou até da pré-história, não me lembro bem. Daí em
diante, todos os ministros, relator, revisor, vogais, todos indistintamente
repetiram essa frase hiperbólica como se fosse um mantra. Nós, telespectadores
do Mensalão e bancadores de seus custos, de tanto ouvir a frase, ficamos
convencidos de que realmente o Zé Dirceu foi o manda-chuva dessa lambança toda.
Pelo senso comum e
também deveria ser pelo pensamento científico das excelências não faz nenhum
sentido o mentor intelectual e coordenador do imbróglio pegar uma pena de 10
anos, quatro vezes menor do que a do subordinado seu, o publicitário Marcos
Valério. Este apenas usou de sua expertise para cumprir as ordens do chefe. A
pena atribuída ao comandante-em-chefe deveria ser o parâmetro superior, o valor
máximo para o estabelecimento das penas dos agentes menores.
Nesse, caso de duas, uma: ou o publicitário Marcos Valério
recebeu toda a descarga de ódio dos nobres juízes, ou o ministro Zé Dirceu foi
protegido pelos panos quentes de amigo do rei.
A não ser que os ministros estejam ficando malucos de tanto
trabalho e agora confundem o Mensalão com o conto de Ali Babá e os quarenta
ladrões, integrante de As mil e uma noites. Ali Babá era, na verdade, um
quase-mocinho, um ladrão de ocasião tentando roubar ladrões. Já os 40 ladrões,
não. Eram vilões de fato.
O que não é nem de longe o caso de Zé Dirceu que, segundo as
autoridades do processo, comandou o maior esquema de corrupção da história
deste país.
Nenhum comentário:
Postar um comentário