Não se culpe por comprar a Mega Sena e nem ache que corrupção é algo exclusividade do brasileiro. Mas talvez agora podemos entender melhor aquela fila da lotérica e as denúncias de corrupção que parecem não ter fim: enriquecimento fácil está presente nos “genes” culturais de todo brasileiro e talvez não se trate de um vírus.Se fosse vírus pelo menos teria vacina…
Não posso deixar de falar de um dos aspectos típicos da cultura
brasileira apontado pelo historiador Sérgio Buarque de Holanda em “Raízes do
Brasil”: o espírito aventureiro. Talvez seja exagero da minha parte, mas a
ideia de enriquecimento fácil – presente tanto entre os que compram a “da
virada” como os que enriquecem ilicitamente – tem o mesmo ancestral em comum.
Explico. Sérgio Buarque utiliza-se de uma metodologia
sociológica ao escrever “Raízes”, baseada nos “Tipos Ideais” weberianos. Os
“Tipos Ideias” são ferramentas metodológicas – existentes apenas no mundo das
ideias – que nos ajudam a pensar a
realidade fornecendo arquétipos que têm pré-disposições diferentes para lidar
com situações reais. Neste sentido, segundo o autor, dois princípios regulam as
atividades do homem: o trabalho e a aventura.
“Para uns, o objeto final, a mira de todo esforço, o ponto
de chegada, assume relevância tão capital, que chega a dispensar, por
secundários, quase supérfluos, todos os processos intermediários. Seu ideal será
colher o fruto sem plantar a árvore. [...] as energias e esforços que se
dirigem a uma recompensa imediata são enaltecidos pelos aventureiros; as
energias que visam à estabilidade, à paz, à segurança pessoal e os esforços sem
perspectiva de rápido proveito material passam, ao contrário, por viciosos e
desprezíveis para eles.” (HOLANDA,2012, pg. 44, grifos meus.)
O espírito aventureiro estava presente no português
colonizador e foi essencial para a colonização empreendida nas Américas. Tal
espírito garantiu rápida adaptação dos colonizadores em terras tão díspares das
suas e influenciaram, inclusive, na organização social e política da colônia:
desde a divisão do trabalho até o tipo de governo instalado. As colônias
desenvolvem a vocação agrária, que irá predominar mesmo depois de alcançada a
liberdade política, pois a própria Europa à época não se encontrava
industrializada e não em função de um espírito de valorização do trabalho na
terra. Depois do extrativismo, era a melhor forma de exercer alguma atividade
produtiva na colônia.
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