sábado, 6 de setembro de 2014

Raízes do Brasil


Não se culpe por comprar a Mega Sena e nem ache que corrupção é algo exclusividade do brasileiro. Mas talvez agora podemos entender melhor aquela fila da lotérica e as denúncias de corrupção  que parecem não ter fim: enriquecimento fácil está presente nos “genes” culturais de todo brasileiro e talvez não se trate de um vírus.Se fosse vírus pelo menos teria vacina…
Não posso deixar de falar  de um dos aspectos típicos da cultura brasileira apontado pelo historiador Sérgio Buarque de Holanda em “Raízes do Brasil”: o espírito aventureiro. Talvez seja exagero da minha parte, mas a ideia de enriquecimento fácil – presente tanto entre os que compram a “da virada” como os que enriquecem ilicitamente – tem o mesmo ancestral em comum.

Explico. Sérgio Buarque utiliza-se de uma metodologia sociológica ao escrever “Raízes”, baseada nos “Tipos Ideais” weberianos. Os “Tipos Ideias” são ferramentas metodológicas – existentes apenas no mundo das ideias –  que nos ajudam a pensar a realidade fornecendo arquétipos que têm pré-disposições diferentes para lidar com situações reais. Neste sentido, segundo o autor, dois princípios regulam as atividades do homem: o trabalho e a aventura.

“Para uns, o objeto final, a mira de todo esforço, o ponto de chegada, assume relevância tão capital, que chega a dispensar, por secundários, quase supérfluos, todos os processos intermediários. Seu ideal será colher o fruto sem plantar a árvore. [...] as energias e esforços que se dirigem a uma recompensa imediata são enaltecidos pelos aventureiros; as energias que visam à estabilidade, à paz, à segurança pessoal e os esforços sem perspectiva de rápido proveito material passam, ao contrário, por viciosos e desprezíveis para eles.” (HOLANDA,2012, pg. 44, grifos meus.)


O espírito aventureiro estava presente no português colonizador e foi essencial para a colonização empreendida nas Américas. Tal espírito garantiu rápida adaptação dos colonizadores em terras tão díspares das suas e influenciaram, inclusive, na organização social e política da colônia: desde a divisão do trabalho até o tipo de governo instalado. As colônias desenvolvem a vocação agrária, que irá predominar mesmo depois de alcançada a liberdade política, pois a própria Europa à época não se encontrava industrializada e não em função de um espírito de valorização do trabalho na terra. Depois do extrativismo, era a melhor forma de exercer alguma atividade produtiva na colônia.

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