Certas pessoas simplesmente não conseguem se relacionar de
forma duradoura. São corações eternamente em fuga. É fácil fazer planos bonitos
que combinam com aquilo que a sociedade, a família e os amigos esperam de nós.
Aquilo que nós mesmos esperamos, na verdade. Mas, na hora de transformar os
planos em realidade, muitas vezes não funciona. Pode ser medo e autosabotagem,
mas pode ser, também, que esses projetos colidam com a nossa verdadeira
natureza. Nem todo mundo foi feito para viver em família. Nem todos nasceram
para voltar aos mesmos braços todas as noites. Ou, pelo menos, nem todo mundo
está pronto para isso, ainda.
Tenho visto gente que depois de anos batendo cabeça
encontrou um romance duradouro, desses que permite alugar uma casa e partilhar
o plano de saúde. Ter filhos também. Quero pensar que estão felizes. A vida,
afinal, não vem pronta e simples para todos. Às vezes é preciso andar muito e
testar bastante antes de chegar a um lugar - ou a uma pessoa - que nos faça
sentir em casa. O tempo nos muda, as circunstâncias nos moldam. Tornamos-nos
melhores na arte de viver e partilhar - e isso permite encontros que antes
seriam impossíveis. Grandes encontros.Dito isso, acho que é preciso evitar
julgamentos.
Não existe uma única forma aceitável de viver. Muita gente
escolherá ficar avulsa, e ponto. Outros oscilarão permanentemente entre o
singular e o plural: pelo gosto da aventura, pela incompatibilidade com a
estabilidade, até pela incapacidade de renunciar, definitivamente, ao sonho de
Cinderela e Príncipe Encantado. Não há problema nisso. O amor, esse que nos
motiva, esse que nos atormenta também, cuja ausência nos enche de culpa e
frustração, não existe de uma única maneira. Cada um de nós tem o direito de
inventá-lo de acordo com a sua personalidade e seu desejo. Ou reinventá-lo,
seguidamente, com outras pessoas e em outras circunstâncias, toda vez que isso
for necessário. Ou, mais exatamente, toda vez que se tornar inevitável seguir
em frente.
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