domingo, 16 de novembro de 2014

AMORES DO ENTARDECER



Quando ficamos mais velho. a dificuldade de amar alguém fica muito dificil, por exemplo. Alguém que ache difícil namorar aos 20 anos dificilmente chegará aos 30 ou aos 40 como a pessoa que tem um relacionamento solido. O tempo diminuiu a curiosidade afetiva e a inquietude. Diminui também a compulsão sexual. Mas a relutância em criar laços só aumenta.
Esse negócio de receber os outros na nossa vida não é simples. Só gente muito jovem acredita que é fácil dividir o corpo, os sentimentos e o cotidiano com alguém que acabamos de conhecer. Em geral as pessoas fazem sexo, encantam-se umas pelas outras por uns dias e logo depois se afastam. Encontros duradouros são infrequentes. Relacionamentos verdadeiros são raros. Para alguns, são quase impossíveis.
para os outros e de penetrar na intimidade alheia. Outros avançam com dificuldade nesse terreno: são tímidos na hora de revelar e relutantes no momento de descobrir. Por alguma razão, a troca de sentimento lhes parece incômoda e inadequada. Ou incompatível com o desejo. Quanto mais sabem sobre o outro, menos atração sentem por ele. É uma recusa visceral de intimidade: só me relaciono enquanto o outro for uma fantasia. No momento em que se torna real e humano, no momento em que exige a minha humanidade, perco o interesse. Todos nós temos dificuldades. Alguns com sexo, outros com sentimentos, muitos com as chatices burocráticas da vida, como tirar diploma, pagar as contas e ganhar a vida. Quando a gente é jovem quer ser perfeito em tudo. Depois relaxa.
Quem vive fora dos trilhos, cheio de parceiros, provoca sentimentos ambíguos nos que têm vidas convencionais. Causam preocupação e mesmo pena, mas também inveja. Trocar de namorada todo mês pode ser um insulto para quem dorme há 10 anos como o mesmo parceiro e nem se lembra mais da sensação de despir um corpo desconhecido ou se deixar tocar por uma pessoa estranha. O inferno da vida dos outros está cheio de passagens que os virtuosos adorariam experimentar.
Quantos de nós somos assim? Nem tantos, eu acho. Minha percepção é que a maior parte das pessoas, homens e mulheres, está disposta a trocar sexo por romance. O melhor sexo fica na memória, ou persiste em escapadas. Mas a pessoa por quem somos apaixonados, (sabe-se lá por que razão), queremos perto de nós, “para sempre”. Aceitamos até sexo irregular e meia boca em troca da sensação de amar.
. A intimidade de cada um de nós é coberta por um véu de mistério e incompreensão. desejo e o afeto - nos habitam. Duelam dentro de nós permanentemente. Às vezes, para nossa felicidade, se abraçam. Nesses breves momentos, que jamais serão eternos, a vida nos parece simples e sublime. Como a de um bicho deitado ao sol. Como a de um anjo, embora anjos não existam.

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