Quando ficamos mais velho. a dificuldade de amar alguém fica
muito dificil, por exemplo. Alguém que ache difícil namorar aos 20 anos
dificilmente chegará aos 30 ou aos 40 como a pessoa que tem um relacionamento
solido. O tempo diminuiu a curiosidade afetiva e a inquietude. Diminui também a
compulsão sexual. Mas a relutância em criar laços só aumenta.
Esse negócio de receber os outros na nossa vida não é
simples. Só gente muito jovem acredita que é fácil dividir o corpo, os
sentimentos e o cotidiano com alguém que acabamos de conhecer. Em geral as
pessoas fazem sexo, encantam-se umas pelas outras por uns dias e logo depois se
afastam. Encontros duradouros são infrequentes. Relacionamentos verdadeiros são
raros. Para alguns, são quase impossíveis.
para os outros e de penetrar na intimidade alheia. Outros
avançam com dificuldade nesse terreno: são tímidos na hora de revelar e
relutantes no momento de descobrir. Por alguma razão, a troca de sentimento
lhes parece incômoda e inadequada. Ou incompatível com o desejo. Quanto mais
sabem sobre o outro, menos atração sentem por ele. É uma recusa visceral de
intimidade: só me relaciono enquanto o outro for uma fantasia. No momento em
que se torna real e humano, no momento em que exige a minha humanidade, perco o
interesse. Todos nós temos dificuldades. Alguns com sexo, outros com
sentimentos, muitos com as chatices burocráticas da vida, como tirar diploma,
pagar as contas e ganhar a vida. Quando a gente é jovem quer ser perfeito em
tudo. Depois relaxa.
Quem vive fora dos trilhos, cheio de parceiros, provoca
sentimentos ambíguos nos que têm vidas convencionais. Causam preocupação e
mesmo pena, mas também inveja. Trocar de namorada todo mês pode ser um insulto
para quem dorme há 10 anos como o mesmo parceiro e nem se lembra mais da
sensação de despir um corpo desconhecido ou se deixar tocar por uma pessoa
estranha. O inferno da vida dos outros está cheio de passagens que os virtuosos
adorariam experimentar.
Quantos de nós somos assim? Nem tantos, eu acho. Minha
percepção é que a maior parte das pessoas, homens e mulheres, está disposta a
trocar sexo por romance. O melhor sexo fica na memória, ou persiste em
escapadas. Mas a pessoa por quem somos apaixonados, (sabe-se lá por que razão),
queremos perto de nós, “para sempre”. Aceitamos até sexo irregular e meia boca
em troca da sensação de amar.
. A intimidade de cada um de nós é coberta por um véu de
mistério e incompreensão. desejo e o afeto - nos habitam. Duelam dentro de nós
permanentemente. Às vezes, para nossa felicidade, se abraçam. Nesses breves
momentos, que jamais serão eternos, a vida nos parece simples e sublime. Como a
de um bicho deitado ao sol. Como a de um anjo, embora anjos não existam.
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