Se eu fosse mulher, tivesse 30 anos e não estivesse num
relacionamento sério, minha lista de planos para 2015 começaria com quatro
palavras: arrumar uma relação legal.Imagino, claro, que a mulher de 30 se
parece comigo na idade dela: meio carente, um tanto romântico e cheio de planos
para o futuro. Planos, que, no meu caso, incluíam alguém para partilhar a vida.
Há muitas pessoas que não sentem assim, evidentemente. Há
caras e garotas que vivem bem sozinhas. Tão bem, na verdade, que não desejam
juntar os trapos e se comprometer. Eles transam quando querem, ficam bem
sozinhos e extraem da sedução frequente aquela satisfação que outras pessoas só
encontram na intimidade duradoura com uma mesma pessoa – por mais que ela traga
seus próprios problemas.
se você sente que não nasceu para circular de forma
autônoma, se você, no fundo da sua alminha inquieta, percebe aquele desejo
ancestral de acasalar e (quem sabe?) fazer família, temo que a única solução
para 2015 seja procurar um par.
Parece absurdamente óbvio o que estou dizendo, mas,
acreditem, não é
Estou cansado de conversar com mulheres de 30 anos que
parecem ter desistido do projeto casal. Falam em adotar sozinhas uma criança,
congelar óvulos ou viver avulsas para sempre, navegando entre um casinho e
outro, entre um e outro site de relacionamento. Estão jogando a toalha, como se
dizia antigamente – embora sejam jovens, atraentes, interessantes, bem
sucedidas no trabalho. Um paradoxo de saias.
O que elas contam é que chegaram a uma idade em que é
preciso tomar decisões, mas não há em volta delas sujeitos que queiram dar um
passo adiante – ou, frequentemente, sujeitos com quem elas gostariam de dar o
tal passo. Homem sempre existe, diz uma amiga minha. Mas cadê o homem que a
faça sentir apaixonada? Ou que, tendo penetrado a couracinha afetiva dela, não
se mostre mais interessado em seguir livre, rompendo outras couraças por aí?
Acho que nós, homens e mulheres do século XXI, ainda temos
um olhar adolescente para as relações afetivas. Queremos que nos caia do céu um
romance arrebatador, pronto e completo, sem contradições ou dúvidas. Sem
defeitos constrangedores também. Exigimos ser amados pelo que somos, mas
estabelecemos condições elevadas para amar. Tendemos, de forma tola, a nos
apaixonar pela beleza, pelo charme, pelo riso. Apostamos no clichê e na
superfície, mas aspiramos ser tratados de outro jeito: queremos ser apreciados
pela profundidade dos nossos sentimentos e por nosso caráter. Em outras
palavras, me ocorre que construir uma relação estável é como terminar o
colégio, escolher a faculdade, lançar-se a uma profissão, sair da casa dos
pais: uma experiência que precisa ser praticada, tentada, pensada e, de vez em
quando, improvisada e remendada. Ao final, talvez, aceita da forma como
apareça.
Logo, se eu fosse uma mulher de 30 anos sem uma relação
estável - ou um homem da mesma idade e na mesma situação – olharia em volta neste primeiro dia do ano da
graça de 2015, seja na praia chuvarenta ou na rua ensolarada da cidade, em
busca de alguém com que eu quisesse passar os próximos dez anos.
Ele ou ela pode estar pertinho. Ou não. Mas é certo que essa
pessoa existe, porque não se trata de um semideus ou de uma criatura engendrada
pela Providência. É um homem ou uma mulher comum, como tantos, a quem você
concederá, de forma particular e única, embora não irrefutável, o privilégio do
amor. A quem você oferecerá o direito a partilhar alguns dos momentos mais
importantes da sua vida – e que receberá, atônito ou comovida, a honra do seu
amor. Estar com ele ou com ela será infinitamente melhor do que jogar as mãos
para o alto e desistir. Aliás, como regra não se desiste da vida, nem das
coisas que a tornam importante.
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