segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

DESCENDO DO SALTO

Sábado, ao entrar numa loja de sapatos,. Vi uma moça alta e magra experimentando um sapato meia pata com plataforma na parte da frente e salto fino atrás) que me pareceu exagerado. Sem salto, ela teria 1,80. Com salto, ficava imensa. E claramente desengonçada. A moça estava insegura, mas a vendedora incentivava: “Está lindo, querida”. Não estava. Saí da loja pensando se havia um inferno para vendedores que mentem.
Nas lojas, como em muitos lugares, as pessoas são movidas pelo desejo. Mas, de onde vem o desejo das mulheres de ficarem tão altas? . A moça da loja tinha altura suficiente para atrair atenção em qualquer ambiente. E não são casos isolados.
Vejo na rua garotas com botas de plataforma que dão a elas um andar pesado e lento, que deve ser o contrário da impressão sensual que gostariam de passar. São raras as que sabem andar ou dançar com elegância num salto agulha – ou numa plataforma com 12 centímetros. Em geral, trocam 10% a mais na altura por quase 100% da liberdade e da leveza de movimentos. Não me parece uma troca justa
Nem toda mulher fica sensual de salto alto. Tem gente que fica só mais alta. Não adianta por salto enorme e andar com os joelhos dobrados. Elegância e sensualidade têm a ver com os movimentos. Gente de aparência rígida não seduz. Mulheres que se mexem com graça ganham pontos
Quando eu era criança, minhas irmãs, já adolescentes, andavam pela casa de salto alto com um livro equilibrado na cabeça. Eu ria às gargalhadas com aquilo, fazendo com que elas também rissem e derrubassem o livro. Não sei se esse treinamento ainda se aplica, mas possa afirmar, com toda certeza, que as minhas irmãs, depois de adultas, só vestiam salto alto para as festa de casamento.
Os brasileiros têm uma queda acentuada por mulheres pequenas e jeitosas. Somos um país de estatura média e nossos mitos eróticos estão abaixo disso. Desde sempre. Lembro da  Sonia Braga e Ana Paula Arosio. Todas pequenas. Carolina Dieckmann, outra moça linda da televisão, tem 1,60. Outro dia me disseram que a colombiana Shakira, a cantora mais desejada da América do Sul, tem 1,55. Só. Grande mesmo é Gisele Bündchen, que tem 1,79. Mas é inútil tentar se parecer com ela, não? O fato é que sucesso no Brasil não depende de tamanho. Claro, um salto agulha alonga as pernas, empina o traseiro e dá, à maioria das mulheres, um ar mais sensual. Mas não precisa ser toda hora. Se uma moça baixinha aparece de salto na noite da festa, o impacto é enorme. Não tem de repetir o truque todo dia. Há o risco de banalizar.
Existe até frase feita para isso: é o meu número. E muitas vezes é mesmo. Quando você abraça, dá um encaixe. Quando dança, tudo combina. Quando deita, fica melhor. Achar bonita uma mulher alta não quer dizer que o seu corpo vá ficar feliz com ela. Olhar é uma coisa, transar pode ser outra, inteiramente diferente.

Seres humanos são flexíveis e as possibilidades de encantamento são infinitas. Importante, eu acho, é que cada um de nós descubra a sua própria elegância. As mulheres altas não precisam se curvar para parecer mais baixas. E as pequenas não deveriam se maltratar para ficarem maiores. Graça não tem tamanho. Sedução é jeito e movimento. Com o passar do tempo, a gente descobre do que gosta e quem gosta da gente. Fato.

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