Hoje em dia, conheço um monte de gente que está no terceiro
casamento. E a cada um corresponde o espectro de uma ex. Alguns são
fantasmas bonzinhos, desses que moram quietinhos na memória e, de vez em
quando, nos acenam do fundo de um bar. São benignos. Outros vêem carregados de
lembranças dolorosas. Só de avistá-los a pessoa se deprime. E há o terceiro
tipo, verdadeiro morto-vivo, que é o ex que acha que não acabou – e fica ali em
volta, ciscando, ligando, mandando mensagens. Encontrá-lo é sempre uma emoção
desagradável.
O pior tipo é o ex de quem a gente gosta. Está lá você, feliz
na sua vida, quando a danada (ou danado) aparece para azedar a noite. Pode
acontecer a qualquer hora, em qualquer lugar. Não há defesa contra esse tipo de
surpresa. No caso dos homens, estar acompanhado de uma mulher bacana atenua o
baque. Afinal, ninguém merece ser pego sozinho, com cara de cão sem dono,
diante de uma ex com olhar de “nunca fui tão feliz na vida”. Um escudo humano
ajuda contra isso, mas não resolve. Ex de quem se gosta sempre dói.
No tempo em que as pessoas se dividiam claramente entre
adultos e adolescentes, esse tipo de situação pertencia ao mundo dos
adolescentes. Adultos não só tinham relações estáveis e duradouras como, uma
vez que elas terminavam, não havia convívio entre ex-marido e ex-mulher. A novidade
é que isso mudou, claro. Os adultos agora trocam de parceiros como
adolescentes, vivem em bandos como os adolescentes e, nesses bandos, todo mundo
frequenta todo mundo, às vezes de forma carnal. Quando acaba com um, a relação
começa com outro. É sempre alguém mais ou menos próximo. O resultado dessa
endogamia é convívio indesejado. É troca de mensagens públicas nas redes
sociais. É dor.Eu acho isso tudo difícil de lidar, mas não vejo escapatória.
Numa sociedade em que as pessoas se casa muitas vezes, é inevitável que andem por aí
esbarrando nos ex. Ao menos aqueles que dividem o mesmo circulo social.
Novos cônjuges ou namorados também são objeto de inspeção
criteriosa, física e existencial. A rede comum de amigos é empregada para
desenterrar detalhes íntimos sobre o sucesso . Se for gente normal, deixa de
ser assunto em poucas semanas. E a vida continua.
Eu gosto de pensar que há grandeza nisso. Que há evolução.
Uma sociedade em que as pessoas trocam, são trocadas e conseguem tocar a vida
sem melodramas éno mundo real, a fila anda,como disse uma vez o Fábio Júnior,
depois da décima separação. Tenho a impressão, aliás, de que a nossa vida
começa a se parecer com a vida dos artistas. Há no nosso cotidiano certo
glamour que as gerações anteriores de gente normal não conheceram. Há também
essas trocas rápidas de parceiros e casamentos relâmpagos que antes a gente só
via nas revistas de fofocas. E há, claro, a divulgação pública de tudo que nos
acontece, pelas redes sociais. Mesmo o anônimo mais sem graça tem uma audiência
no Facebook com quem dividir seu último sucesso ou insucesso amoroso. Todos nós
temos plateia e suspeito que, mesmo inconscientemente, atuamos para ela. Nós e
nossas ex nos tornamos parte de uma novela que está o ar 24 horas por dia na
internet.
Como eu já disse, não vejo muito remédio contra isso. Quem
se relacionar no mundo moderno vai esbarrar nessa promiscuidade, ainda que não
se engaje nela diretamente. Se o seu ex está na rede, um pedaço seu está lá. Se
o seu ex é galinha, lá vai você na roda.
Um jeito de evitar o pior talvez seja relacionar-se fora da
tribo profissional ou do grupo de amigos. Se algum dia a relação acabar, você
não terá de ver sua ex- toda hora, nem ouvir a fofocas sobre o que ela faz ou
deixa de fazer.
Outra dica útil – infinitamente mais séria - é examinar com
cuidado o caráter da mulher ou do homem a quem você vai se juntar,
especialmente se quiser ter filhos. Não há nada pior do que achar-se ligado
pelo resto da vida a uma pessoa escrota. Mesmo aquilo que é difícil torna-se é
mais fácil quando se está tratando com gente de bem.
Em relação à figura do ex ou da ex, a grande advertência é
que eles não vão desaparecer porque nos cansamos deles. As pessoas com quem a
gente se relacionou de forma duradoura fazem de alguma forma parte da nossa
vida. Ficam lá em algum formato de arquivo.
Se você tem três ou quatro ex que estão sempre ao redor,
aceite isso. E cuide para que o seu novo parceiro ou parceira também aceite.
Num mundo como o nosso, em que nada é permanente, a capacidade de lidar com o
passado deve ser parte do teste de admissão. Quem não sabe lidar com os seus
próprios ex ou tem problemas com os ex dos outros não merece a vaga. Não está a
altura da titularidade.
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