De vez em quanto, pergunto a mim mesmo quem é meu tipo de
mulher ideal.acho que acontece com todo mundo, não?rompimento doloroso ou
confrontados com a possibilidade de um compromisso, somos forçados a pensar
sobre o tipo de pessoa que nos faria felizes.
Eu mesmo nunca fui bom em responder a essa pergunta. Sempre
a considerei um exemplo de racionalidade mal aplicada. De que adianta concluir
que eu gosto de loiras com alma de escritora se eu vou acabar envolvido com uma
morena com corpo de passista? A vida é implacável com as nossas convicções. E
morre de rir das nossas certezas.
Uma vez, milênios atrás, eu estava na porta do cinema com um
casal de amigos. Eles queriam me apresentar uma garota com quem achavam que eu
teria alguma afinidade. Ela veio chegando, eles a mostraram à distância e eu
descartei: “Não é meu tipo”. Cinco anos depois, eu gemia no escuro por causa
dela, que tinha me dado um pé na bunda. Foi uma das relações mais marcantes da
minha vida – e nem era meu tipo...
Quando eu penso na mulher ideal tendo a olhar para trás e
fazer um apanhado das características das pessoas que passaram pela minha vida.
Lembro delas e sou forçado a concluir que aquilo que me agrada ou desagrada nas
mulheres não é tão diferente daquilo que me agrada ou desagrada nas pessoas em
geral. Trata-se de temperamento e de personalidade, nunca de currículo. O que a
pessoa tem, fez ou sabe tende a ser uma consequência do que ela é – e nesse
pedaço do “ser” se fixa o meu interesse.
Feitas essas ressalva, vamos à descrição da Mulher Ideal,
com tudo o que ela tem de arbitrário e pessoal. Talvez ajude algum sujeito por
aí a entender as suas próprias preferências. Talvez ajude as mulheres a
refletir sobre o que vai pela cabeça conturbada dos homens:
Quando eu penso na mulher ideal, o primeiro adjetivo que me
vem à mente é afetuosa. Aprendi, com o passar dos anos, que gosto de ter ao meu
redor gente que se vincula e que demonstra carinho, sem ser chata.
Racionalidade e distanciamento são virtudes importantes, mas elas não me
comovem. Eu gosto de mulher doce.
Outra coisa da qual eu gosto é elegância, entendida como um
jeito de se relacionar com o mundo e com as pessoas. Não se trata apenas de
roupas. A elegância de que eu falo começa no jeito de andar, mas se expressa,
sobretudo, em atitudes e palavras. É uma mistura de harmonia, altivez e senso
de humor. Eu me incomodo cada vez mais com grossura e vulgaridade.
Tolerância é fundamental. Todo mundo que tem algum
conhecimento sobre si mesmo sabe que seres humanos são falíveis e
contraditórios. É preciso apreciar a diversidade dos comportamentos e olhar
para os demais com generosa ironia. Mulheres bravas, que só recriminam as
pessoas em volta, me trazem más recordações.
Eu gosto de gente rebelde. Não precisa ser a Rosa de
Luxemburgo, mas alguma dose de indignação e engajamento é essencial. Pessoas
que não percebem as injustiças ou não se incomodam com elas me incomodam. Gente
que só olha para a própria barriga também não me vai. A mulher ideal tem de ser
cúmplice quando o sujeito estiver exasperado com o andamento do mundo.
Olhando para trás, percebo que eu aprecio a originalidade.
Não gosto de mulher igual às outras mulheres, por mais bonita que seja. Quem se
confunde com o bando não me atrai. As pessoas têm de ter luz própria,
personalidade, estilo. DEFEITOS, talvez. É isso que as torna interessantes e,
às vezes, indispensáveis – onde você vai arrumar outra mulher como aquela se
ela é única?
Por fim, eu admiro as mulheres leves. Não, não se trata de
magreza. É um jeito de olhar para a vida sem mágoas, com curiosidade e
interesse. É a facilidade de rir e de se surpreender, de ficar feliz. O oposto
disso é a mulher amarga, rancorosa, mal humorada. Isso afasta.
Haveria outras coisas a acrescentar ao perfil da
Mulher Ideal: inteligência, independência e até mesmo, como diria Vinícius de
Moraes, uma indefinível e ocasional melancolia. Mas o que temos na lista é
suficiente para marcar o meu ponto de vista e começar a discussão.
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