terça-feira, 13 de janeiro de 2015

METROSSEXUAL

Qual a diferença entre raspar rosto ou cabeça – algo que todo mundo faz – e raspar peito, pernas e sobrancelhas – algo que menos homens se atrevem a fazer? Diferença nenhuma. É só questão de convenção. Se um monte de sujeitos influentes começar a aparecer em público com as sobrancelhas desenhadas e o peito escanhoado, essa forma de apresentação passará a ser vista como aceitável. Tem sido assim com tudo que nos cerca. Já houve um tempo em que tomar banho, raspar a barba, cortar o cabelo e até usar calças era visto como coisa de gente extravagante. Esse tempo passou.
Vivemos há decádas a era do "pode tudo", e os estigmas ficam para trás. A discussão em torno da depilação masculina não é mais sobre sexualidade. Gays e heteros depilam o peito, cuidam das sobrancelhas, vão à manicure. Todos fazem plásticas. Há vaidosos de todas as orientações sexuais. Os gays lançam roupas, cortes de cabelo e cuidados com o corpo, que os heterossexuais usarão depois. Eles abrem espaço. É por isso que os homens hoje usam os cremes das suas mulheres espalhados sobre a pia do banheiro. Agora pode.
Cristiano Ronaldo, o jogador de futebol português que todos conhecem, não é menos heterossexual por causa das sobrancelhas de odalisca ou das pernas lisas. O problema dele é parecer um narcisista de tempo integral, alguém 100% do tempo preocupado com a aparência. Essa é a grande questão em torno dos cuidados estéticos masculinos. As mulheres querem ter em casa um parceiro cuja prioridade número 1 é parecer perfeito no espelho? Os homens querem ser esse tipo de obcecado?
Mulheres acham todos os dias que estão gordas, velhas, feias, moles... e lá está o gordo, sentado no sofá, cerveja na mão, para assegurá-la de que continua linda e gostosa. Essa atitude, falsa e condenável aos olhos dos fisicamente corretos, é na verdade necessária. Alguém precisa estar fora do círculo infernal de angústia e perversão em relação ao peso e às medidas. Alguém na relação precisa sugerir que a perfeição não existe. Alguém tem de lembrar que o fim da juventude é inevitável – e ajudar a parceira a recebê-lo com ironia saudável, não com pânico. Ou seria melhor que houvesse na casa dois histéricos com o peso, as rugas e os pelos?
Neste mundo, a velha cultura masculina oferece um porto seguro. Ela criou, para  conforto dos homens, mitos que permitem viver melhor. O coroa charmoso é um deles; ajuda a envelhecer sem tanta angústia. O gordinho falador que pega todas é outro; uma lenda urbana a serviços dos rapazes acima do peso. Há também o careca másculo, o magro elegante, o feio cheiroso, o grandalhão simpático. As lendas existem porque são necessárias – e porque as mulheres confirmam sua existência a cada minuto, com sua imensa e bem-vinda generosidade sexual. Não apenas elas. Pense nos casais gays que você conhece. São todos malhados e fortões? Gente apaixonada fica na cama até mais tarde, bebe muito vinho e quase sempre engorda. De felicidade.

Para melhorar o mundo e para permitir o convívio harmonioso dos casais. Em vez de os homens adotarem a neurose das mulheres com o corpo,façamos o contrário. Todo mundo relaxa, todo mundo abre um livro e todos se servem de outra taça de vinho. Dentro de vinte anos, estaremos um pouco mais gordos e mais acabados do que estaríamos. Mas a verdade é que isso acontecerá de qualquer jeito. Não adianta depilar o peito.

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