Quando eu era garoto, nos anos 80, não tinha essa de dormir
com a namorada ou com o namorado na casa dos pais. O sexo entre os adolescentes
era menos comum, e, quando acontecia, era na forma de transgressão, longe dos
olhos da família.
Desde então as coisas mudaram. Muito. Os pais abriram espaço
em casa para que os filhos recebam seus parceiros. As relações sexuais entre os
jovens deixaram de ser clandestinas e eventuais para se tornarem corriqueiras e
aceitas. A cena foi parar até em propaganda de TV: no café da manhã, os pais,
inteiramente constrangidos, deparam com um adolescente cabeludo e sem jeito que
acabou de dormir com a filhinha deles...
Há quem acredite que a filha vai se casar virgem. Outros são
da teoria de que "o que os olhos não veem, o coração não sente". Alguns, mais corajosos, defendem que os
filhos levem os namoradas(os) para dormir em casa, assim estarão mais seguros.
Mas até o pai mais moderno costuma sentir um aperto no peito quando a filha
vira para ele e diz: "já está tarde para meu namorado ir embora. Ele pode
ficar em casa?".
É de certa maneira mais seguro e mais gostoso ser
adolescente dessa forma do que viver em privação, ou em constante temor de ser
descoberto, como acontecia no passado. Do ponto de vista dos pais, é melhor
saber com quem os filhos estão transando (mesmo que eles não aprovem totalmente
as escolhas de parceiros...) do que forçá-los a se esconder por aí, sabe-se lá
com quem. Para os filhos, compensa. Submeter-se a essa camada de controle dos
pais ainda é mais legal do que meter-se em situações potencialmente perigosas. Quando
você leva alguém para casa dos pais, se obriga a fazer controle de qualidade.
Isso é bom.
Amores da adolescência são arrebatadores, não
necessariamente duradouros. Romeu e Julieta eram adolescentes. O amor deles é
oceânico, único, tem o gosto de um sentimento que apenas acaba de ser
descoberto. Por isso é desesperado. Para quem já se esqueceu do que é amar na
adolescência, eu recomendo um filme de 1971 chamado Melody – em português,
Quando brota o amor. Existe em DVD e nos serviços de internet. Mais leve que
Romeu e Julieta, ele não é menos apaixonado. Sugere que o amor, nessa fase da
vida, nasce em oposição à família e aos costumes, não sob a proteção deles. Os
tempos mudaram, mas talvez isso permaneça verdadeiro.
Nós estamos ficando modernos, vivemos numa sociedade
gradualmente mais civilizada, e pagamos um preço por isso. A tolerância social
com a vida sexual dos jovens vem acompanhada de perda de autonomia da parte
deles. É compreensível, mas não deveria ser exagerado. Adolescentes têm o tempo
deles e as emoções deles. Relações com cara de casamento são para adultos. Quem
ainda está crescendo e descobrindo não deveria ser empurrado a assumir
compromisso. Como muitas coisas boas, essa também pode se tornar opressiva.
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