quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

NAMORO ADOLECENTE




Quando eu era garoto, nos anos 80, não tinha essa de dormir com a namorada ou com o namorado na casa dos pais. O sexo entre os adolescentes era menos comum, e, quando acontecia, era na forma de transgressão, longe dos olhos da família.
Desde então as coisas mudaram. Muito. Os pais abriram espaço em casa para que os filhos recebam seus parceiros. As relações sexuais entre os jovens deixaram de ser clandestinas e eventuais para se tornarem corriqueiras e aceitas. A cena foi parar até em propaganda de TV: no café da manhã, os pais, inteiramente constrangidos, deparam com um adolescente cabeludo e sem jeito que acabou de dormir com a filhinha deles...
Há quem acredite que a filha vai se casar virgem. Outros são da teoria de que "o que os olhos não veem, o coração não sente".  Alguns, mais corajosos, defendem que os filhos levem os namoradas(os) para dormir em casa, assim estarão mais seguros. Mas até o pai mais moderno costuma sentir um aperto no peito quando a filha vira para ele e diz: "já está tarde para meu namorado ir embora. Ele pode ficar em casa?".
É de certa maneira mais seguro e mais gostoso ser adolescente dessa forma do que viver em privação, ou em constante temor de ser descoberto, como acontecia no passado. Do ponto de vista dos pais, é melhor saber com quem os filhos estão transando (mesmo que eles não aprovem totalmente as escolhas de parceiros...) do que forçá-los a se esconder por aí, sabe-se lá com quem. Para os filhos, compensa. Submeter-se a essa camada de controle dos pais ainda é mais legal do que meter-se em situações potencialmente perigosas. Quando você leva alguém para casa dos pais, se obriga a fazer controle de qualidade. Isso é bom.

Amores da adolescência são arrebatadores, não necessariamente duradouros. Romeu e Julieta eram adolescentes. O amor deles é oceânico, único, tem o gosto de um sentimento que apenas acaba de ser descoberto. Por isso é desesperado. Para quem já se esqueceu do que é amar na adolescência, eu recomendo um filme de 1971 chamado Melody – em português, Quando brota o amor. Existe em DVD e nos serviços de internet. Mais leve que Romeu e Julieta, ele não é menos apaixonado. Sugere que o amor, nessa fase da vida, nasce em oposição à família e aos costumes, não sob a proteção deles. Os tempos mudaram, mas talvez isso permaneça verdadeiro.

Nós estamos ficando modernos, vivemos numa sociedade gradualmente mais civilizada, e pagamos um preço por isso. A tolerância social com a vida sexual dos jovens vem acompanhada de perda de autonomia da parte deles. É compreensível, mas não deveria ser exagerado. Adolescentes têm o tempo deles e as emoções deles. Relações com cara de casamento são para adultos. Quem ainda está crescendo e descobrindo não deveria ser empurrado a assumir compromisso. Como muitas coisas boas, essa também pode se tornar opressiva.

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