terça-feira, 28 de abril de 2015

A IDADE DO AMOR



Cada idade tem os seus humores, os seus gostos e os seus prazeres, / E, como a nossa pele, embranquece os nossos desejos. (Mathurin Régnier) Em nossa sociedade ninguém quer envelhecer, pois isso significa pertencer a um grupo marginalizado, que “já deu o que tinha que dar”, voltado para os “velhos tempos”, quando muita coisa era melhor. A conversa do velho gira quase sempre em torno do passado. O jovem, por sua vez, tem interesse no presente e no futuro. Daí por que o diálogo entre esses dois grupos é muitas vezes difícil. E por essa e outras razões os nossos velhos se sentem freqüentemente incompreendidos, rejeitados e inúteis. Um escritor contemporâneo chegou a dizer que havia nascido na época errada. “Quando eu era jovem”, explicava ele, “não se dava valor aos jovens. Agora que sou velho, não se respeita os velhos.” Existe somente uma idade para a gente ser feliz, somente uma época na vida de cada pessoa em que é possível sonhar e fazer planos e ter energia bastante para realizá-las a despeito de todas as dificuldades e obstáculos. Uma só idade para a gente se encantar com a vida e viver apaixonadamente e desfrutar tudo com toda intensidade sem medo, nem culpa de sentir prazer. Fase dourada em que a gente pode criar e recriar a vida, a nossa própria imagem e semelhança e vestir-se com todas as cores e experimentar todos os sabores e entregar-se a todos os amores sem preconceito nem pudor. Tempo de entusiasmo e coragem em que todo o desafio é mais um convite à luta que a gente enfrenta com toda disposição de tentar algo novo, de novo e de novo, e quantas vezes for preciso. Essa idade tão fugaz na vida da gente chama-se presente e tem a duração do instante que passa. Certo é que a idade não nos protege contra o amor. Mas o amor, até certo ponto, protege-nos contra a idade.

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