Cada idade tem os seus humores, os seus gostos e os seus
prazeres, / E, como a nossa pele, embranquece os nossos desejos. (Mathurin
Régnier) Em nossa sociedade ninguém quer envelhecer, pois isso significa
pertencer a um grupo marginalizado, que “já deu o que tinha que dar”, voltado
para os “velhos tempos”, quando muita coisa era melhor. A conversa do velho
gira quase sempre em torno do passado. O jovem, por sua vez, tem interesse no
presente e no futuro. Daí por que o diálogo entre esses dois grupos é muitas
vezes difícil. E por essa e outras razões os nossos velhos se sentem
freqüentemente incompreendidos, rejeitados e inúteis. Um escritor contemporâneo
chegou a dizer que havia nascido na época errada. “Quando eu era jovem”,
explicava ele, “não se dava valor aos jovens. Agora que sou velho, não se
respeita os velhos.” Existe somente uma idade para a gente ser feliz, somente
uma época na vida de cada pessoa em que é possível sonhar e fazer planos e ter
energia bastante para realizá-las a despeito de todas as dificuldades e
obstáculos. Uma só idade para a gente se encantar com a vida e viver
apaixonadamente e desfrutar tudo com toda intensidade sem medo, nem culpa de
sentir prazer. Fase dourada em que a gente pode criar e recriar a vida, a nossa
própria imagem e semelhança e vestir-se com todas as cores e experimentar todos
os sabores e entregar-se a todos os amores sem preconceito nem pudor. Tempo de
entusiasmo e coragem em que todo o desafio é mais um convite à luta que a gente
enfrenta com toda disposição de tentar algo novo, de novo e de novo, e quantas
vezes for preciso. Essa idade tão fugaz na vida da gente chama-se presente e
tem a duração do instante que passa. Certo é que a idade não nos protege contra
o amor. Mas o amor, até certo ponto, protege-nos contra a idade.
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