Uma vez, faz tempo, tive uma namorada em outra cidade. A
cada quinze dias eu subia no ônibus e a visitava. Era delicioso aquilo tudo – pegar o ônibus, ser esperado na chegada, matar a saudades e trocar novidades, que
sempre eram muitas. Além da relação com ela, havia o contato com a cidade dela,
os amigos dela, os lugares que ela preferia. Eu gostava. Quando acabou o
namoro, como as coisas boas às vezes acabam, senti falta de tudo. Da mulher, do ônibus, da cidade. Sobretudo, me fez falta o hiato romântico dos fins de semana
intercalados. A vida com ela era mais rica.Em tempos de internet e passagens
baratas, estão se tornando alegremente comuns as relações à distância como a
que eu tive
O manual dos cínicos sugere, em sua infinita indelicadeza,
que morar longe um do outro – bem longe - é a melhor maneira de manter uma
relação duradoura. Quanto menos as pessoas se virem, quanto mais curtos os períodos
de extrema convivência
Os cínicos são engraçados, mas mesmo eles sabem que ninguém
escolhe viver uma paixão à distância. Isso simplesmente acontece. Uma hora você
teve de vir e a pessoa não pôde ou não quis acompanhar. Ou foi o contrário? As
amarras práticas da vida são muitas e frequentemente
Sinto saudade de tanta coisa. Saudade da minha infância.
De brincar na rua. Da simplicidade que era a vida. De apenas ter que escolher
de que cor pintar as Nuvens. Saudade de correr na chuva, sem me preocupar em me
molhar. De ser criança. De ser inocente. Saudade de acreditar que os sonhos
podem se concretizar. De ficar sem fazer nada o dia todo. De me fascinar com as
estrelas. Saudade de não ter que me preocupar em ver todos que amo indo embora.
De não ter que fazer escolhas complexas e difíceis. Saudade de andar de
bicicleta, sem rumo. De correr na rua. De não me importar com opiniões alheias.
Saudade de quando a vida era simples. De quando a vida era apenas viver, e não
sobreviver. De quando eu apenas perdia meus brinquedos, e não pessoas. De
quando eu chorava porque não queria parar de brincar, ou fazer algo que queriam
que eu fizesse, e não porque tive meu coração partido. Saudade de não me
importar com a sociedade, e com as regras que ela impõe. De não pensar no
futuro, de não querer crescer. Saudade de viver o agora, sem pensar no que vão
dizer, ou no que vão pensar. Saudade de ser o centro das atenções. De receber
atenção. De ouvir música o dia todo, sem ter lembranças ruins. Saudade de não
saber o que são sentimentos. De não saber o que era sofrer, de verdade. De não
ter preocupações. Sinto falta de ser o que era antes. De sentir o que sentia
antes.
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