Talvez haja armadilhas na nossa natureza humana que
atrapalham na hora de ser feliz. Uma delas é o hábito, associado ao desprezo
pelos detalhes. O que está lá todo dia deixa de nos fazer feliz. Pequenas
coisas que fazem a diferença na nossa vida também podem passar sem ser notadas.
Algo dentro de nós clama por grandeza e novidade, de preferência todos os dias.
Como se fosse possível, ou mesmo desejável, viver uma aventura a cada 24 horas,
reinventar a vida a cada volta do relógio. Mas é isso que uma parte de nós
reclama. ela quer novidades, confusão, heroísmo e lágrimas. Exige movimento e
agitação como sinônimo de vida. O cotidiano suave e amoroso é percebido como a
chatice a ser combatida.
Às vezes eu acho que isso é um problema neurológico. Ele
impede centenas de milhões de pessoas de ficarem em paz com as coisas legais
que estão ao redor delas. Em lugar do gozo, o problema neurológico instala
dentro de nós os mecanismos da inquietação e da queixa. Em lugar da satisfação,
a angústia. Evidentemente isso não acontece com todo mundo, mas quanta gente
assim você conhece? Quanto de você mesmo não é assim?
Talvez seja uma coisa evolutiva. Vai ver que a felicidade –
ou qualquer estado de contentamento e acomodação – é negativa no longo prazo.
Vai ver que nós, humanos, precisamos estar ansiosos o tempo inteiro para nos
mantermos vigilantes, atentos contra os riscos. Sempre em movimento, sempre famintos.
Como está na moda explicar tudo com base na evolução da espécie, fica aqui a
minha modesta contribuição para o darwinismo social: haveria um gene da
infelicidade que zela pela sobrevivência de longo prazo da nossa espécie?
Qualquer que seja a razão, não nos preparamos para apreciar
os prazeres cotidianos. Estamos sempre olhando para fora de um jeito sonhador,
ou para dentro de uma forma exageradamente crítica. Assim cultivamos a
insatisfação e a infelicidade. Assim perdemos os melhores momentos da vida
Nenhum comentário:
Postar um comentário