domingo, 21 de junho de 2015

MULHERES MADURAS



Talvez seja apenas uma experiência pessoal, mas eu duvido. Ao redor de mim, sinto que outros homens são forçados a lidar com a mesma perplexidade: as mulheres se aproximam da idade madura, repentinamente, tudo começa a mudar.
Balzac, é bom lembrar, escreveu há quase 200 anos. Naquele tempo, uma mulher infeliz deveria conformar-se com a sua sorte. Ou, sendo muito atrevida, correr atrás de um homem que lhe oferecesse outra existência. Não havia possibilidade de aventurar-se sozinha.
Se essa mulher vivesse hoje em dia,  mandaria o casamento às favas, faria uma grande viagem, mudaria de vida e de emprego e talvez achasse no processo um homem com quem quisesse ter um filho. Ou não. O romantismo da personagem de Balzac poderia ser vivido apenas como sexo e procriação. Hoje, o romantismo feminino pode tomar qualquer forma: revolução existencial, divórcio, reinvenção profissional, aventura ou mesmo maternidade.
Tudo isso, porém, são reações. Mais importante, eu acho, é o motivo que está por trás delas desde o tempo de Balzac - a crise dos 30 40 50 . As mulheres, como muitos já sentiram na pele, têm crises autônomas, alimentadas por suas próprias aspirações. Pela sua poesia, diria Balzac. Ela provoca erupções silenciosas e decisões intempestivas. O romantismo - num sentido amplo, e não somente erótico - carrega as mulheres para fora dos namoros, dos casamentos, dos empregos e dos países. Há nelas um desejo amplo de realização que nos homens parece estar simplificado na combinação de trabalho e família. É como se nós já soubéssemos o que a vida nos reserva, enquanto as mulheres precisariam descobrir do zero como viver as suas - e os 30 40 50 anos assinalam um momento dramático de definição.
Muitas mulheres, lendo isso, rirão das minhas especulações. Homens angustiados e complexos tampouco irão se reconhecer nesse desenho simplificado. Seres humanos diferem, naturalmente. Um homem pode ter mais em comum com uma mulher do que com outros homens. Naturalmente. Mas isso não impede que haja tendências e histórias que se repetem através dos anos, e a crise feminina por volta dos 30 é uma delas.

Como homem, o que fazer diante dessa crise? Não sei. Como agir se ela atingir a mulher que você ama? Eu bem que gostaria de saber.

O que eu acho - apenas acho - é que honestidade e conhecimento de si mesmos são essenciais. Na hora do pânico e da solidão, somos capazes de gestos heroicos que não significam nada. São pirotecnia emocional vazia. Espetáculos para nós mesmos. As perguntas essenciais diante da crise da parceira são simples de elaborar e difíceis de responder com franqueza:

. Aquilo que você deseja é semelhante ao que ela parece desejar? Muitas vezes não é o caso.

. Você gosta da pessoa em que ela está se transformando? Frequentemente, não.

. O que você pode oferecer (como ser humano e companheiro, não como provedor) é suficiente para fazê-la feliz? Você me diga, leitor.


Às vezes, mesmo em situações que nos são caras, não podemos fazer nada além de declarar nosso amor e torcer. A crise dos 30 40 50  talvez seja uma delas. Você vê a mulher que você ama afastar-se e torce para que ela volte. Se isso for impossível, tenta desejar que ela seja feliz. O que mantém as pessoas apaixonadas através do tempo e das crises - nós sabemos - são projetos e planos comuns. Na ausência deles, existe apenas o nosso sentimento. Ele é lindo, mas não basta. Não diante de uma mulher em ebulição.

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