Talvez seja apenas uma experiência pessoal, mas eu duvido.
Ao redor de mim, sinto que outros homens são forçados a lidar com a mesma
perplexidade: as mulheres se aproximam da idade madura, repentinamente, tudo começa
a mudar.
Balzac, é bom lembrar, escreveu há quase 200 anos. Naquele
tempo, uma mulher infeliz deveria conformar-se com a sua sorte. Ou, sendo muito
atrevida, correr atrás de um homem que lhe oferecesse outra existência. Não
havia possibilidade de aventurar-se sozinha.
Se essa mulher vivesse hoje em dia, mandaria o casamento às favas, faria uma
grande viagem, mudaria de vida e de emprego e talvez achasse no processo um
homem com quem quisesse ter um filho. Ou não. O romantismo da personagem de
Balzac poderia ser vivido apenas como sexo e procriação. Hoje, o romantismo
feminino pode tomar qualquer forma: revolução existencial, divórcio, reinvenção
profissional, aventura ou mesmo maternidade.
Tudo isso, porém, são reações. Mais importante, eu acho, é o
motivo que está por trás delas desde o tempo de Balzac - a crise dos 30 40 50 .
As mulheres, como muitos já sentiram na pele, têm crises autônomas, alimentadas
por suas próprias aspirações. Pela sua poesia, diria Balzac. Ela provoca
erupções silenciosas e decisões intempestivas. O romantismo - num sentido
amplo, e não somente erótico - carrega as mulheres para fora dos namoros, dos
casamentos, dos empregos e dos países. Há nelas um desejo amplo de realização
que nos homens parece estar simplificado na combinação de trabalho e família. É
como se nós já soubéssemos o que a vida nos reserva, enquanto as mulheres
precisariam descobrir do zero como viver as suas - e os 30 40 50 anos assinalam
um momento dramático de definição.
Muitas mulheres, lendo isso, rirão das minhas especulações.
Homens angustiados e complexos tampouco irão se reconhecer nesse desenho
simplificado. Seres humanos diferem, naturalmente. Um homem pode ter mais em
comum com uma mulher do que com outros homens. Naturalmente. Mas isso não
impede que haja tendências e histórias que se repetem através dos anos, e a
crise feminina por volta dos 30 é uma delas.
Como homem, o que fazer diante dessa crise? Não sei. Como
agir se ela atingir a mulher que você ama? Eu bem que gostaria de saber.
O que eu acho - apenas acho - é que honestidade e
conhecimento de si mesmos são essenciais. Na hora do pânico e da solidão, somos
capazes de gestos heroicos que não significam nada. São pirotecnia emocional
vazia. Espetáculos para nós mesmos. As perguntas essenciais diante da crise da
parceira são simples de elaborar e difíceis de responder com franqueza:
. Aquilo que você deseja é semelhante ao que ela parece
desejar? Muitas vezes não é o caso.
. Você gosta da pessoa em que ela está se transformando?
Frequentemente, não.
. O que você pode oferecer (como ser humano e companheiro,
não como provedor) é suficiente para fazê-la feliz? Você me diga, leitor.
Às vezes, mesmo em situações que nos são caras, não podemos
fazer nada além de declarar nosso amor e torcer. A crise dos 30 40 50 talvez seja uma delas. Você vê a mulher que
você ama afastar-se e torce para que ela volte. Se isso for impossível, tenta
desejar que ela seja feliz. O que mantém as pessoas apaixonadas através do
tempo e das crises - nós sabemos - são projetos e planos comuns. Na ausência
deles, existe apenas o nosso sentimento. Ele é lindo, mas não basta. Não diante
de uma mulher em ebulição.
Nenhum comentário:
Postar um comentário