Manter laços com alguém que deixou de nos amar é como estar
preso pela manga do casaco à porta de um carro. Se o carro se mover - em
qualquer direção, em qualquer velocidade -
quem está preso a ele se machuca. Feio. A única coisa a fazer,
rapidamente, é se desvencilhar antes que o carro avance.
Talvez você nunca tenha estado preso a um carro em
movimento, mas certamente já se sentiu ligado a alguém que estava de saída ou
tinha arrancado e partido. Há coisas em comum entre as duas situações.
Assim como os carros que aceleram, as pessoas que se afastam
tornam-se perigosas para quem está preso a elas. Deixam de ser o que eram e
viram gente estranha, rapidamente. A pessoa que você amava está lá, mas surgem
pequenas alterações de personalidade e comportamento que machucam quem está
perto para presenciá-las.
Não há maldade nisso, vejam bem.
A pessoa que saiu voltou a ser o que era, sem as mudanças
que amar causava nela. Sem as inibições que a sua presença impunha. Ela está
livre para ser alguém que não tem a sua influência. Livre para ser ela mesma,
talvez. Por isso você não a reconhece. Não faltam apenas o olhar cúmplice, a
mão que buscava a sua, o carinho no falar. Essencialmente, falta você nela.
Quem você amava agia de uma certa forma - e não de outras -
por estar apaixonado por você. Preocupava-se com a sua opinião e os seus
sentimentos. Agora, se move com relativa ou total indiferença, e isso a torna
outra pessoa, inteiramente. Parece a anterior, mas só por fora. Por dentro, vai
se tornando irreconhecível. Cada gesto, palavra e ação reafirma a diferença e
amplia a distância entre vocês.
Evitar que isso aconteça é impossível, mas talvez existam
formas de encurtar a miséria que a situação provoca. Um afastamento de 30 dias,
por exemplo. Cortar o contato radicalmente, proteger-se e esperar que
sentimentos de parte a parte se assentem. Uma dieta radical de 30 dias sem
visitas, telefonemas, mensagens ou mimimi no WhatsApp.
Não é um período tão longo que dê medo. Nem é um tempo tão
curto que não mude nada. Ao final dele, se tudo der certo, a vida terá se
tornado mais leve, a ansiedade terá se reduzido e a presença dele ou dela
dentro de você será menor. Talvez seja possível dormir em paz. Se tudo der
errado, você estará de volta ao ponto em que está agora.
Nesse mês de abstinência, por longo e penoso que venha a
ser, você será poupado de ver, ouvir ou saber coisas que tornariam sua vida um
inferno. Evitará ser humilhado ou agredido por circunstâncias que poderiam
facilmente ter sido evitadas. Bastaria não estar lá. Bastaria não ter visto.
Bastaria não saber.
Quando você não tem mais influência sobre os sentimentos e
as decisões do outro, mas continua emocionalmente ligado a ele ou ela, é melhor
se afastar e procurar abrigo. Ficar atrás vai ter sempre o risco de ser emocionalmente
demolido.
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