sexta-feira, 19 de junho de 2015

QUANDO O AMOR ACABA

Manter laços com alguém que deixou de nos amar é como estar preso pela manga do casaco à porta de um carro. Se o carro se mover - em qualquer direção, em qualquer velocidade -  quem está preso a ele se machuca. Feio. A única coisa a fazer, rapidamente, é se desvencilhar antes que o carro avance.

Talvez você nunca tenha estado preso a um carro em movimento, mas certamente já se sentiu ligado a alguém que estava de saída ou tinha arrancado e partido. Há coisas em comum entre as duas situações.

Assim como os carros que aceleram, as pessoas que se afastam tornam-se perigosas para quem está preso a elas. Deixam de ser o que eram e viram gente estranha, rapidamente. A pessoa que você amava está lá, mas surgem pequenas alterações de personalidade e comportamento que machucam quem está perto para presenciá-las.

Não há maldade nisso, vejam bem.

A pessoa que saiu voltou a ser o que era, sem as mudanças que amar causava nela. Sem as inibições que a sua presença impunha. Ela está livre para ser alguém que não tem a sua influência. Livre para ser ela mesma, talvez. Por isso você não a reconhece. Não faltam apenas o olhar cúmplice, a mão que buscava a sua, o carinho no falar. Essencialmente, falta você nela.

Quem você amava agia de uma certa forma - e não de outras - por estar apaixonado por você. Preocupava-se com a sua opinião e os seus sentimentos. Agora, se move com relativa ou total indiferença, e isso a torna outra pessoa, inteiramente. Parece a anterior, mas só por fora. Por dentro, vai se tornando irreconhecível. Cada gesto, palavra e ação reafirma a diferença e amplia a distância entre vocês.

Evitar que isso aconteça é impossível, mas talvez existam formas de encurtar a miséria que a situação provoca. Um afastamento de 30 dias, por exemplo. Cortar o contato radicalmente, proteger-se e esperar que sentimentos de parte a parte se assentem. Uma dieta radical de 30 dias sem visitas, telefonemas, mensagens ou mimimi no WhatsApp.

Não é um período tão longo que dê medo. Nem é um tempo tão curto que não mude nada. Ao final dele, se tudo der certo, a vida terá se tornado mais leve, a ansiedade terá se reduzido e a presença dele ou dela dentro de você será menor. Talvez seja possível dormir em paz. Se tudo der errado, você estará de volta ao ponto em que está agora.

Nesse mês de abstinência, por longo e penoso que venha a ser, você será poupado de ver, ouvir ou saber coisas que tornariam sua vida um inferno. Evitará ser humilhado ou agredido por circunstâncias que poderiam facilmente ter sido evitadas. Bastaria não estar lá. Bastaria não ter visto. Bastaria não saber.


Quando você não tem mais influência sobre os sentimentos e as decisões do outro, mas continua emocionalmente ligado a ele ou ela, é melhor se afastar e procurar abrigo. Ficar atrás vai ter sempre o risco de ser emocionalmente demolido.

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