Quem ama cuida. Quem ama não se ausenta e nem se esquiva.
Quando as coisas ficam difíceis, estica a mão, oferece o ombro, abraça e
conforta. Quem ama se faz presente, não sai do ar. Às vezes se sacrifica. O
amor tem uma cláusula de irrevogabilidade. Se foi revogado não é amor. Já era. Se
isso lhe parece antigo, tem razão. As coisas não são mais assim. A modalidade
de amor que praticamos é mais amena. Está ligada ao nosso futuro, à nossa
carreira, a certa ideia de conforto e sucesso. É contingente. Virou uma forma
de realização pessoal e social, não sentimento pelo qual pagamos um preço. Pelo
amor não sacrificamos nada, só recebemos.
Desculpem se pareço triste, mas percebo ao meu redor - e
dentro de mim - uma sensação pesada de orfandade, ligada à transitoriedade das
coisas. Fui ver na internet e descobri que a palavra "órfão" vem do
grego orphanos, que significa, literalmente, "privado" ou
"desprovido". Não nos sentimos privados de proteção e carinho? Não
estamos desprovidos da sensação de aconchego que torna a vida aprazível? Tudo a
ver.
Havia no passado camadas de proteção entre o mundo e cada um
de nós. Éramos parte de algo maior que nos abrigava. Hoje estamos sozinhos, ou
quase. Há nosso amor, mas ele pode faltar. Existe a família, mas ela se resume
a pais e filhos - um núcleo pequeno e frágil que pode a qualquer instante
implodir. No trabalho, somos lutadores solitários. Em que parte do mundo nos
juntamos a nossos iguais e nos sentimos parte de um todo? Nenhuma. Onde fica o
oásis de paz e tranquilidade? Não há.
As relações afetivas já foram esse oásis, não são mais.
Trocamos segurança por verdade e aventura. Somos deixados, trocados,
esquecidos, superados. Assim como deixamos, trocamos, esquecemos, superamos.
Muitas vezes. Tantas vezes. Tudo é intenso e provisório. Nada está assegurado.
Não podemos realmente contar com isso. O que é sólido se desmancha no ar (para
usar uma frase famosa) e avançamos - de cabeça erguida, em meio à nossa SOLIDÃO colhendo o riso e o gozo que se
oferecem, retribuindo com a nossa alegria (que não morreu, hiberna apenas).
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