domingo, 13 de setembro de 2015

CIÚME



Faz um tempo um amigo meu foi ao bar com uma ex-colega de trabalho e o namorado dela juntou-se aos dois: soltando fumaça na cara do amigo e fazendo provocações. Quando a coisa ameaçava descambar para a violência física , a namorada do amigo chegou, como estava programado. O valentão então se acalmou e tudo terminou em paz: ele só sacudiu a namorada pelos ombros na saída do bar, mas não chegou a bater nela.
Enfim, parece haver no mundo uma enormidade de homens ciumentos e um número equivalente de mulheres disposta conviver com a recorrente agressividade deles. Por quê?
A teoria que mais acredito é aquela que ao longo de um milhão de anos, a natureza teria aprimorado um "gene do ciúme" - para impedir que o macho fosse traído e perpetuasse a descendência dos outros - e ele continuaria funcionando ainda hoje, como um nódulo troglodita no meio do cérebro moderno. Homem nenhum é obrigado por forças genéticas a portar-se como louco, sobretudo em uma cultura flexível como a do Brasil. E nenhuma mulher é forçada por genes ancestrais a aceitar a truculência como fato da vida. Aceita quem gosta ou quem quer. Por quê?
Tentei falar sobre isso com algumas mulheres que eu conheço e não ouvi qualquer explicação convincente. "Quando a gente gosta, aguenta". "Depois dos 30, a mulher olha para o outro lado para manter o companheiro". "Fulano é um homem fantástico e por isso que eu estou com ele". Acho que essas frases nem arranham a superfície da questão.

Minha impressão é que algumas mulheres simplesmente gostam de homens ciumentos e não se importam com as consequências éticas ou sociais do que eles fazem. Talvez as excite. Talvez lhes dê a famosa sensação de proteção. Talvez confundam ciúme patológico com amor verdadeiro: em uma sociedade como a nossa, em que muitos homens se portam com certo desdém em relação às mulheres, um sujeito que rosna para os demais transmite um simulacro factível de amor.

Se isso tudo parece um pouco dramático, eu peço licença para dividir com vocês (parcialmente) uma experiência pessoal que deixou marcas profundas.
Quando eu era garoto, uma moça próxima de mim casou-se com um sujeito rico, bonito e... ciumento. Lembro dele se gabando, ainda noivo, de como havia espancado o ex-namorado da moça que se atrevera a procurá-la. Ele estava orgulhoso da façanha, e eu, que tinha uns 12 anos, fiquei hipnotizado pela exibição de poder. Imagino que a moça de 22 anos também tenha se impressionado.

Para encurtar a história, o casamento durou seis meses. Na primeira desavença séria o grandalhão desceu o braço na mulher que amava. Ela, que gostava imensamente de si mesma, esperou o sujeito virar as costas e fugiu para começar vida nova. Pelo que eu saiba nunca mais se envolveu com tipos ameaçadores.

Essa história antiga me fornece todos os parâmetros que eu preciso para julgar homens e mulheres envolvidos nesse tipo de situação.


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