Há uma tristeza em nós que sobrevive às maiores alegrias.
Todo mundo sabe disso. Freud, Shakespeare, A mim parece que a natureza nos dotou de
alarmes. De quando em quando, um deles dispara para nos lembrar,
realisticamente, que não há bem que sempre dure. É como se algo em nós dissesse através do sonho, da
inexplicável
melancolia, de um acontetimento repentino, “Por favor, não se
acostume. , a vida não é simples, a dor é inevitável.” Algo em nós avisa que a
tristeza faz parte da vida. Cada vez que a gente se abre verdadeiramente para a vida,
corre o risco de ser envolvido pelo drama da vida . Problemas de saúde. Depressão. O pai
que bebe. A irmã maluca. É mais fácil estender um cordão sanitário em volta de si
mesmo e evitar com unhas e dentes qualquer coisa que
atrapalhe. Mas isso, de forma muito clara, significa renunciar a viver. Ou,
pelo menos, a viver aspectos essenciais da sua própria existência.
Nós somos filhos dos nossos temores, porém. Fomos educados
pelo medo. A perspectiva da alegria brilha menos do que a lembrança do infortúnio. Por isso somos
cautelosos e egoístas.
Por isso deixamos que o futuro passe ao largo sem esboçar um gesto para detê-lo. Depois nos
queixaremos, velhotes, que a vida não trouxe nada fora do cardápio. Quando ofereceu,
recusamos.
Melhor seria se nos deixássemos levar pela mão
do amor a circunstâncias novas e misteriosas. Seríamos mais felizes se
pudéssemos
amar o outro tão profundamente que as mesquinharia ficassem para trás como malas inúteis. Se pudéssemos fazer com que
as necessidades do outro fossem parte da nossa vida, seríamos como um. Ou
quase.
Como se chega a isso? Não sei. Perdemos a fórmula, se algum dia
ela existiu. Agora teremos de improvisar e descobrir. Certamente, não adianta
afirmar, a todo momento, as nossas prioridades, as nossas necessidades e os
nossos medos. A vida exige coragem. E generosidade.
Nunca houve um filósofo que
conseguisse suportar pacientemente uma dor de dentes.
William Shakespeare
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