É fácil idealizar um tempo que já passou. E quanto mais
longe, maior a viagem.
Com os anos 70 não poderia ser diferente.
Eu bem me lembro: já existiam bandidos (roubaram a Monark
de um amigo Único que tinha bicicleta quando eu tinha 10 anos). Claro, também existiam coisa boas e
a principal delas era a liberdade para jogar bola no meio da rua ou dar a volta
na quadra de bicicleta.
Acredite, na década de 70 os pais “largavam” os seus filhos para
brincar na rua.
Era um tempo de muito futebol (Brasil tri-campeão do
mundo) e das bicicletas.
As mais cobiçadas eram a Monareta, da Monark,
e a Berlineta, da Caloi.
A Monareta era a minha favorita, não só por ter um design mais
moderno mas também por e não ter o problema da Berlineta, dobrável, que
enferrujava e se partia em dois.
Da minha memória nunca vai sair o dia em que eu perdi a
unha do dedão do meu pé direito ao tentar frear “na marra” a minha Monark numa
descida de uma das ruas do bairro
Espero que nunca mais volte o mal gosto estético dos anos
70.
Quem pode achar bonito a combinação entre uma calça boca
de sino, uma camiseta curtinha, mostrando a barriga e sapatos imitando couro de
jacaré? Num homem!
Nem vou falar dos coletes, dos sapatos de salto alto,
paletós xadrez e das costeletas. Quem
não fumava era bundão. Os 70 representam o auge
da indústria tabagista e do consumo de cigarros no Brasil.
Era para gente que sabe o que quer (Minister),
era o sucesso (Hollywood), um lugar de aventura e
liberdade (Marlboro).
A propaganda era liberada e, acredite, muitas vezes
associada ao esporte! Tanto quanto hoje a cerveja é ligada ao futebol (outro
absurdo).
Havia cigarros fininhos (More e Chanceler); cigarros com
menta (Consul): longos (Charm); populares (Continental, Hollywood, Vila Rica);
de baixos teores de nicotina e alcatrão (Galaxy).
Nada ficou tão marcado nesta época quanto o comercial dos
cigarros Vila Rica, na qual o tri campeão de futebol Gérson aparecia dizendo:
“gosto de levar vantagem em tudo, certo?” – que ficou marcado como a “Lei
de Gérson”, o brasileiro sem ética, que faz qualquer coisa para ter o que
deseja. Uma crítica bem injusta, já que a frase pode ter outras interpretações
também.
Recordo-me de uma semana antes do meu primeiro dia de
aula - na década de 70 - quando minha irmã mais velha sentou-se à mesa comigo e
com plásticos, papéis, durex e tesoura à mão, ensinou-me uma lição que jamais
esqueci: Encapar cadernos e livros com papel de presente (os cadernos dela eram
sempre cobertos com pôsteres de artistas da época). E após cobertos, a segunda
etapa era “organizar” os cadernos por dentro. Então se dobrava a primeira
página na forma de um “meio triangulo” e depois se colava um decalque ou uma
figurinha qualquer recortada de revistas e livros velhos (Quê? Figurinhas
“frufru” adesivas da Barbie, Garfield , Moranguinhos, Loly Pop e tal? Nem
existiam! Ela gostava mesmo era de recortar e colar as figuras dos pratinhos de
festas de aniversário, rs!).
E daí eu escrevia abaixo da figura: Grupo Escolar dr Afonso
Pena júnior, Caderno de Linguagem, 1º Série Primária, Turma “A”, No: 17,
Professora: Dona Raimunda Era um tempo em que tudo era novidade. Eu levantava
de manhã bem cedo (com um cabelo “medonho” e uma cara de ódio, tá!), escovava
os dentes, enquanto minha irmã preparava a lancheira. Daí tomava café e saia
junto com meus irmão (também com cara de ódio). E durante o caminho - que por
centenas de vezes eu fiz – imaginava que no mundo “tudo era lindo e
maravilhoso”. Naturalmente que eu não sabia de nada do que rolava pelo país a
fora. Os anos de chumbo caíam nas costas do povo brasileiro, pois imperava o
auge da Ditadura Militar. Governo Médici. Imprensa censurada. Lei de Segurança
Nacional.
Enfim, enquanto tudo isto acontecia, lá estávamos nós no
pátio interno da escola: Todos trajando camisa branca de mangas curtas (com o
escudo da escola no bolso), calças também curtas (de tergal) ou saias
azul-marinho. Meias brancas e os inesquecíveis e confortáveis sapatos “conga”
ou sapatos preto tipo colegial, nos pés. Ficávamos todos na fila, e antes de
entrar cantávamos o Hino Nacional. Durante a Semana da Pátria era pior! Porque
além do do Hino já citado, cantávamos também: O Hino da Bandeira, o Hino da
Proclamação da República e o Hino da Independência do Brasil. E tinha mais,
existia uma tal de “Alvorada” em plena madrugada do dia 07 de setembro - para o
hasteamento das Bandeiras - que era uma “tortura”para todos nós. Cabeça
erguida, postura ereta, mãozinhas em cima do peito esquerdo e a cantar em altos
brados todos os Hinos possíveis e imagináveis....
Todo início de ano letivo era uma festa, principalmente
na hora de comprar o material escolar. Eu sempre gostei daquele “cheirinho” de
tudo novo: Cadernos, lápis, borrachas, réguas, cartolinas, livros, papel
pautado... Na minha época era tudo muito simples, não tinha tantas
variedades e/ou novidades como as que se tem hoje nas livrarias. E se tinha,
não chegava às pequenas lojinhas da minha cidade. O Caderno espiral (esses de
araminho), fui ter um na 5º série, e nem era capa dura...mas a minha maior
saudade daqueles anos de infância era a presença protetora dos minha mãe e do
meu pai.
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