quarta-feira, 17 de agosto de 2016

A INFÂNCIA NOS ANOS 70


É fácil idealizar um tempo que já passou. E quanto mais longe, maior a viagem.
Com os anos 70 não poderia ser diferente.
Eu bem me lembro: já existiam bandidos (roubaram a Monark de um amigo Único que tinha bicicleta quando eu tinha 10 anos). Claro, também existiam coisa boas e a principal delas era a liberdade para jogar bola no meio da rua ou dar a volta na quadra de bicicleta. Acredite, na década de 70 os pais “largavam” os seus filhos para brincar na rua.
Era um tempo de muito futebol (Brasil tri-campeão do mundo) e das bicicletas.
As mais cobiçadas eram a Monareta, da Monark, e a Berlineta, da Caloi.
A Monareta era a minha favorita, não só por ter um design mais moderno mas também por e não ter o problema da Berlineta, dobrável, que enferrujava e se partia em dois.
Da minha memória nunca vai sair o dia em que eu perdi a unha do dedão do meu pé direito ao tentar frear “na marra” a minha Monark numa descida de uma das ruas do bairro 
Espero que nunca mais volte o mal gosto estético dos anos 70.
Quem pode achar bonito a combinação entre uma calça boca de sino, uma camiseta curtinha, mostrando a barriga e sapatos imitando couro de jacaré? Num homem!
Nem vou falar dos coletes, dos sapatos de salto alto, paletós xadrez e das costeletas. Quem não fumava era bundão. Os 70 representam o auge da indústria tabagista e do consumo de cigarros no Brasil.
Era para gente que sabe o que quer (Minister), era o sucesso (Hollywood), um  lugar de aventura e liberdade (Marlboro).
A propaganda era liberada e, acredite, muitas vezes associada ao esporte! Tanto quanto hoje a cerveja é ligada ao futebol (outro absurdo).
Havia cigarros fininhos (More e Chanceler); cigarros com menta (Consul): longos (Charm); populares (Continental, Hollywood, Vila Rica); de baixos teores de nicotina e alcatrão (Galaxy).
Nada ficou tão marcado nesta época quanto o comercial dos cigarros Vila Rica, na qual o tri campeão de futebol Gérson aparecia dizendo: “gosto de levar vantagem em tudo, certo?” –  que ficou marcado como a “Lei de Gérson”, o brasileiro sem ética, que faz qualquer coisa para ter o que deseja. Uma crítica bem injusta, já que a frase pode ter outras interpretações também.

Recordo-me de uma semana antes do meu primeiro dia de aula - na década de 70 - quando minha irmã mais velha sentou-se à mesa comigo e com plásticos, papéis, durex e tesoura à mão, ensinou-me uma lição que jamais esqueci: Encapar cadernos e livros com papel de presente (os cadernos dela eram sempre cobertos com pôsteres de artistas da época). E após cobertos, a segunda etapa era “organizar” os cadernos por dentro. Então se dobrava a primeira página na forma de um “meio triangulo” e depois se colava um decalque ou uma figurinha qualquer recortada de revistas e livros velhos (Quê? Figurinhas “frufru” adesivas da Barbie, Garfield , Moranguinhos, Loly Pop e tal? Nem existiam! Ela gostava mesmo era de recortar e colar as figuras dos pratinhos de festas de aniversário, rs!). 
E daí eu escrevia abaixo da figura: Grupo Escolar dr Afonso Pena júnior, Caderno de Linguagem, 1º Série Primária, Turma “A”, No: 17, Professora: Dona Raimunda Era um tempo em que tudo era novidade. Eu levantava de manhã bem cedo (com um cabelo “medonho” e uma cara de ódio, tá!), escovava os dentes, enquanto minha irmã preparava a lancheira. Daí tomava café e saia junto com meus irmão (também com cara de ódio). E durante o caminho - que por centenas de vezes eu fiz – imaginava que no mundo “tudo era lindo e maravilhoso”. Naturalmente que eu não sabia de nada do que rolava pelo país a fora. Os anos de chumbo caíam nas costas do povo brasileiro, pois imperava o auge da Ditadura Militar. Governo Médici. Imprensa censurada. Lei de Segurança Nacional.
Enfim, enquanto tudo isto acontecia, lá estávamos nós no pátio interno da escola: Todos trajando camisa branca de mangas curtas (com o escudo da escola no bolso), calças também curtas (de tergal) ou saias azul-marinho. Meias brancas e os inesquecíveis e confortáveis sapatos “conga” ou sapatos preto tipo colegial, nos pés. Ficávamos todos na fila, e antes de entrar cantávamos o Hino Nacional. Durante a Semana da Pátria era pior! Porque além do do Hino já citado, cantávamos também: O Hino da Bandeira, o Hino da Proclamação da República e o Hino da Independência do Brasil. E tinha mais, existia uma tal de “Alvorada” em plena madrugada do dia 07 de setembro - para o hasteamento das Bandeiras - que era uma “tortura”para todos nós. Cabeça erguida, postura ereta, mãozinhas em cima do peito esquerdo e a cantar em altos brados todos os Hinos possíveis e imagináveis....
Todo início de ano letivo era uma festa, principalmente na hora de comprar o material escolar. Eu sempre gostei daquele “cheirinho” de tudo novo: Cadernos, lápis, borrachas, réguas, cartolinas, livros, papel pautado... Na minha época era tudo muito simples, não tinha tantas variedades e/ou novidades como as que se tem hoje nas livrarias. E se tinha, não chegava às pequenas lojinhas da minha cidade. O Caderno espiral (esses de araminho), fui ter um na 5º série, e nem era capa dura...mas a minha maior saudade daqueles anos de infância era a presença protetora dos minha mãe e do meu pai.

.

Nenhum comentário:

Postar um comentário