domingo, 14 de outubro de 2012

QUEBRANDO PARADIGMAS


Quando eu olho para esses períodos e pessoas breves, enxergo sorrisos, olhos brilhantes, corpos contentes. Há nessas memórias uma espécie de felicidade corriqueira que parece ausente das memórias do grande amor. E há também uma deliciosa gratuidade – eu não estava preocupado em ser amado ou em ser abandonado. Eu simplesmente estava ali e era bom.
Hoje me parece que essas experiências, apesar da sua aparência modesta, têm grande importância na formação das pessoas. Elas ensinam calma e prazer. Elas nos inoculam com o vírus da segurança e do contentamento. Elas revestem a vivência afetiva de uma camada de normalidade que o grande amor, frequentemente, não tem.
O grande amor – sejamos francos – nos oprime, nos aflige, nos inquieta. Essas outras coisas, quaisquer que sejam seus nomes, nos libertam. Ao permitir que sejamos nós mesmos, sem medo e sem aflição, elas nos ensinam a ser felizes, em doses homeopáticas.
Oscar Wilde, homossexual e um grande cínico, disse uma vez que um homen poderia ser feliz com qualquer mulher, desde que não a amasse. Sempre achei que a frase continha um paradoxo insolúvel, mas hoje ela me parece compreensível, ainda que irônica.
De qualquer forma, o amor, o grande amor, o amor das nossas vidas, talvez esteja supervalorizado. Há outras coisas, igualmente importantes e talvez mais agradáveis, que precisam ser mais bem compreendidas e apreciadas. Mas talvez a gente precise de alguma inovação nessa área, de uma mudança de paradigma.
Da próxima vez que a sua parceira ou seu parceiro perguntar “você me ama” tente ser franco e responder “ainda não”, e acrescente: “e isso é muito bom. Significa que eu estou livre pra ser feliz e pra fazer você feliz”. Pode ser o começo de uma conversa muito boa.

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