Numa grande quantidade de casais a história da tampa e da
panela tem muito mais a ver com posturas complementares e doentias do que amor
propriamente dito. É bem antiga a tradição de pessoas dominadoras e
egocêntricas se relacionarem com outras mais passivas e submissas.
Uma manda, outra obedece; uma fala, outra ouve; uma dita,
outra aceita; uma deseja, outra atende; uma trai, outra perdoa; uma tem amigos,
outra dedica tempo exclusivo; uma pinta e borda, outra fica limpando a sujeira.
Não são vítima e algoz. São ambos atuantes de um jogo tóxico
onde se protegem de uma verdadeira intimidade emocional nutritiva em que o
controle não seja o fator principal de uma relação.
Ambos precisam um do outro para existir, afinal, o rei não
existe sem um súdito, e é muito comum pessoas dominadoras e egoístas sofrerem
quando a pessoa submissa (cansada desse joguinho emocional) se rebela e parte
para outra. Sem ter em quem mandar, o dominador se desestrutura até encontrar o
próximo lombo onde vai usar sua chibata.
Muitas vezes o que acontece é também encontrar alguém tão ou
mais dominador e passar a agir na polaridade oposta como um cordeirinho manso e
submisso. Seja mandando ou obedecendo, o jogo patológico se sustenta numa base
de poder e controle, não de amor.
Algumas pessoas sabem amar, mas são péssimas administradoras
de relacionamento. Não sabem o timing para sair, transar, falar declarações
gostosas, são mesquinhos, descuidados, pouco atenciosos ou vaidosos. Tem muito
amor e pouca ação.
Outros são prodigiosos em logística amorosa por conta de sua
obsessividade em organizar agendas, espaços e compromissos, mas tem vontade
fraca e são relativamente frios. Muito gerenciamento e pouco amor.Os que se
dizem azarados não sabem fazer ambos e os casais saudáveis articulam bem as
duas habilidades.
Portanto, num relacionamento, não basta falar “eu te amo”
se, na prática, você se mostra desastroso em administrar conflitos simples do
cotidiano.Na prática de um casal, precisa haver contexto, dinheiro, cultura,
estudo, viagens, lazer, trabalho, tempo de casal, tempo individual, amigos,
família e assim vai. Quanto maior a riqueza de diversidade de um casal mais
bases positivas eles encontram para crescer em conjunto.
Quando penso no amor como ação, penso nessa ação vindo de
outra região, uma região de generosidade. Caso contrário, qualquer coisa que se
faça, qualquer cuidado que se tome, por mais nobre que seja, sempre vai
despertar ressentimentos silenciosos ou comentários do tipo "porra, fiz
tudo aquilo e pra mim, ela deixou ISSO?"
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