estamos diante da geração mais preparada – e, ao mesmo
tempo, da mais despreparada. Preparada do ponto de vista das habilidades,
despreparada porque não sabe lidar com frustrações. Preparada porque é capaz de
usar as ferramentas da tecnologia, despreparada porque despreza o esforço.
Preparada porque conhece o mundo em viagens protegidas, despreparada porque
desconhece a fragilidade da matéria da vida. E por tudo isso sofre, sofre
muito, porque foi ensinada a acreditar que nasceu com o patrimônio da
felicidade. E não foi ensinada a criar a partir da dor.
É como se os filhos nascessem e imediatamente os pais já se
tornassem devedores. Para estes, frustrar os filhos é sinônimo de fracasso
pessoal. Mas é possível uma vida sem frustrações? Não é importante que os
filhos compreendam como parte do processo educativo duas premissas básicas do
viver, a frustração e o esforço? Ou a falta e a busca, duas faces de um mesmo
movimento? Existe alguém que viva sem se confrontar dia após dia com os limites
tanto de sua condição humana como de suas capacidades individuais?
Há uma geração de classe média que estudou em bons colégios,
é fluente em outras línguas, viajou para o exterior e teve acesso à cultura e à
tecnologia. Uma geração que teve muito mais do que seus pais. Ao mesmo tempo,
cresceu com a ilusão de que a vida é fácil. Ou que já nascem prontos – bastaria
apenas que o mundo reconhecesse a sua genialidade.
Nossa classe média parece desprezar o esforço. Prefere a
genialidade. O valor está no dom, naquilo que já nasce pronto. Dizer que
“fulano é esforçado” é quase uma ofensa. Ter de dar duro para conquistar algo
parece já vir assinalado com o carimbo de perdedor. Bacana é o cara que não
estudou, passou a noite na balada e foi aprovado no vestibular de Medicina.
Este atesta a excelência dos genes de seus pais. Esforçar-se é, no máximo,
coisa para os filhos da classe C, que ainda precisam assegurar seu lugar no
país.
Seria muito bacana que os pais de hoje entendessem que tão
importante quanto uma boa escola ou um curso de línguas ou um Ipad é dizer de
vez em quando: “Te vira, meu filho. Você sempre poderá contar comigo, mas essa
briga é tua”. Assim como sentar para jantar e falar da vida como ela é: “Olha,
meu dia foi difícil” ou “Estou com dúvidas, estou com medo, estou confuso” ou
“Não sei o que fazer, mas estou tentando descobrir”. Porque fingir que está
tudo bem e que tudo pode significa dizer ao seu filho que você não confia nele
nem o respeita, já que o trata como um imbecil, incapaz de compreender a
matéria da existência. É tão ruim quanto ligar a TV em volume alto o suficiente
para que nada que ameace o frágil equilíbrio doméstico possa ser dito.
Agora, se os pais mentiram que a felicidade é um direito e
seu filho merece tudo simplesmente por existir, paciência. De nada vai adiantar
choramingar ou emburrar ao descobrir que vai ter de conquistar seu espaço no
mundo sem nenhuma garantia. O melhor a fazer é ter a coragem de escolher. Seja
a escolha de lutar pelo seu desejo – ou para descobri-lo –, seja a de abrir mão
dele. E não culpar ninguém porque eventualmente não deu certo, porque com
certeza vai dar errado muitas vezes. Ou transferir para o outro a responsabilidade
pela sua desistência.Crescer é compreender que o fato de a vida ser falta não a
torna menor. Sim, a vida é insuficiente. Mas é o que temos. E é melhor não
perder tempo se sentindo injustiçado porque um dia ela acaba.
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