domingo, 21 de setembro de 2014

O QUE AS PESSOAS NEM IMAGINAM

É fácil perceber atualmente uma tentativa de caracterizar o Funk como a nova expressão popular que toma avassaladoramente as massas e consegue espaço em todos os lugares possíveis: eventos elitizados ou de natureza mais popular, universidades, programas de tv, enfim, onde exista entretenimento que necessite de música, está lá, quase obrigatoriamente a presença do Funk.
Deste modo, caímos na armadilha de não perceber o que este estilo musical carrega e quão grave é a realidade destes que representam suas comunidades através do Funk. A melodia que é praticamente a mesma em todas as músicas, a voz rouca e agressiva dos cantores e a violência extremada das letras, inclusive o teor sexual brutalmente exposto, não de forma crítica, e que reduz a condição da mulher de maneira significativa, são elementos que não podem passar despercebidos e se tornarem mero divertimento dançante.
Tive que escutar durante toda uma noite varais frases como essa`senta na bola senta na bola senta na bola senta na bola..epa!
agora pego o piru, pega o piru, pega o piru. ôOOOooo danada!
Agora....rebolando rebolando rebolando rebolando. eta pohrra!
Late! vai chupando vai chupando vai chupando! Ahhhh Cachorra!´
Fui então a um baile pra investigar  com uma camisa larga e um boné pra mostrar que sou do meio...mas o que presencie tenho certeza que ninguém da minha geração imagina que aconteça   Meninos e meninas se alternam numa fila indiana dançando no movimento da música. As expressões corporais são eróticas e progridem para a relação propriamente dita. "a mulher é mero apêndice" e não tem um lugar naquele universo como tem no samba, na MPB e em outras manifestações culturais. Funk como expressão popular é o puro produto da miséria de nossa sociedade com sua profunda desigualdade.
É esse tipo de música que mais vende. Reflete bem o nível de alienação do povo e o quanto está longe de entender que esse discurso podre desse tipo de música não os levará a nada. Sexo não é tudo na vida, há coisas muito mais significantes, mas sobre esses temas, não se interessam. Estamos vivendo num tempo de verdadeira libertinagem onde o que é de qualidade é trocado por porcaria.
a cultura popular, chamada de “raiz”, usufruída apenas pelos intelectuais e membros da elite tornando-se cult. Também é legítima a exclusão da classe popular do direito ao ensino e a educação de qualidade, além do acesso aos locais onde se promove a cultura na cidade. A vida do favelado se resume à comunidade. A exclusão se dá inclusive geograficamente. Lá ele encontra de tudo, sai apenas para trabalhar, ou estudar, sendo o seu divertimento principal o baile funk. No baile convivem legiões de viciados, traficantes, ambulantes que “dão duro” toda a noite, com sono, e um sem número de pessoas maltratadas  e tem aquilo como único divertimento. Lhes é negado também o acesso à informação e o incentivo necessário para que a população se integre realmente, para que o favelado saia do gueto. O baile funk, tal como acontece na favela, caracteriza-se como o máximo do underground, o maior exemplo de submundo no Rio de Janeiro. O problema é político. O povo consome o pouco e mísero do que já existe por que não lhes é apresentado o diferente, ou mesmo o que já existe há anos. Inúmeros são os artistas brasileiros, os músicos em particular, que construíram há tempos uma carreira respeitada internacionalmente, mas que não conseguem espaço no país e, conseqüentemente, o povo é privado de conhecê-los. A real possibilidade de escolha fica para aqueles que têm meios e poder aquisitivo, além de uma instrução, que lhes possibilitem o contato com este pequeno mundo de poucos.

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