É fácil perceber atualmente uma tentativa de caracterizar o
Funk como a nova expressão popular que toma avassaladoramente as massas e consegue
espaço em todos os lugares possíveis: eventos elitizados ou de natureza mais
popular, universidades, programas de tv, enfim, onde exista entretenimento que
necessite de música, está lá, quase obrigatoriamente a presença do Funk.
Deste modo, caímos na armadilha de não perceber o que este
estilo musical carrega e quão grave é a realidade destes que representam suas
comunidades através do Funk. A melodia que é praticamente a mesma em todas as
músicas, a voz rouca e agressiva dos cantores e a violência extremada das
letras, inclusive o teor sexual brutalmente exposto, não de forma crítica, e
que reduz a condição da mulher de maneira significativa, são elementos que não
podem passar despercebidos e se tornarem mero divertimento dançante.
Tive que escutar durante toda uma noite varais frases como
essa`senta na bola senta na bola senta na bola senta na bola..epa!
agora pego o piru, pega o piru, pega o piru. ôOOOooo danada!
Agora....rebolando rebolando rebolando rebolando. eta
pohrra!
Late! vai chupando vai chupando vai chupando! Ahhhh
Cachorra!´
Fui então a um baile pra investigar com uma camisa larga e um boné pra mostrar que
sou do meio...mas o que presencie tenho certeza que ninguém da minha geração
imagina que aconteça Meninos e meninas se alternam numa fila
indiana dançando no movimento da música. As expressões corporais são eróticas e
progridem para a relação propriamente dita. "a mulher é mero
apêndice" e não tem um lugar naquele universo como tem no samba, na MPB e
em outras manifestações culturais. Funk como expressão popular é o puro produto
da miséria de nossa sociedade com sua profunda desigualdade.
É esse tipo de música que mais vende. Reflete bem o nível de
alienação do povo e o quanto está longe de entender que esse discurso podre
desse tipo de música não os levará a nada. Sexo não é tudo na vida, há coisas
muito mais significantes, mas sobre esses temas, não se interessam. Estamos vivendo
num tempo de verdadeira libertinagem onde o que é de qualidade é trocado por
porcaria.
a cultura popular, chamada de “raiz”, usufruída apenas pelos
intelectuais e membros da elite tornando-se cult. Também é legítima a exclusão
da classe popular do direito ao ensino e a educação de qualidade, além do
acesso aos locais onde se promove a cultura na cidade. A vida do favelado se
resume à comunidade. A exclusão se dá inclusive geograficamente. Lá ele
encontra de tudo, sai apenas para trabalhar, ou estudar, sendo o seu
divertimento principal o baile funk. No baile convivem legiões de viciados,
traficantes, ambulantes que “dão duro” toda a noite, com sono, e um sem número
de pessoas maltratadas e tem aquilo como
único divertimento. Lhes é negado também o acesso à informação e o incentivo
necessário para que a população se integre realmente, para que o favelado saia
do gueto. O baile funk, tal como acontece na favela, caracteriza-se como o
máximo do underground, o maior exemplo de submundo no Rio de Janeiro. O
problema é político. O povo consome o pouco e mísero do que já existe por que
não lhes é apresentado o diferente, ou mesmo o que já existe há anos. Inúmeros
são os artistas brasileiros, os músicos em particular, que construíram há
tempos uma carreira respeitada internacionalmente, mas que não conseguem espaço
no país e, conseqüentemente, o povo é privado de conhecê-los. A real
possibilidade de escolha fica para aqueles que têm meios e poder aquisitivo,
além de uma instrução, que lhes possibilitem o contato com este pequeno mundo
de poucos.
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