Se não houvesse outra razão para gostar do convívio com as
mulheres, haveria a maneira como elas são capazes de parar pela manhã diante do
guarda-roupa escancarado e queixar-se amargamente de que não têm o que vestir.
Usualmente nuas, com as mãos nas cadeiras, fazem um beicinho desolado. Várias
vezes por semana.
Metrossexuais à parte, homens não têm esse encanto. Falta a
eles sinceridade ou imaginação. Mark Zuckerberg, o fundador do Facebook, diz
que economiza tempo e energia usando sempre a mesma cor de camiseta. Há um
exemplo feminino equivalente? Desconheço. Mulheres tendem a ser ciosas da
própria aparência. Esse é apenas um dos fatos que as distingue positivamente
dos homens.
Às vezes, quando estou enternecido, tenho vontade de fazer a
lista das coisas que tornam as mulheres adoráveis. A cena diante do
guarda-roupa é uma delas. Outra, talvez minha favorita, é a capacidade de
chorar fazendo sexo. Não qualquer sexo, em qualquer dia, mas o sexo apaixonado
que só se faz de vez em quando, cheio de ternura, beijos e juras pornográficas
de amor.
Outra coisa que me toca é a sinceridade das mulheres diante
das próprias emoções. Quando jovem, a gente se perturba com a intensidade e a
franqueza dos sentimentos delas. Está tudo à flor da pele, vem aos borbotões,
assusta. Com os anos, a gente se acostuma. Começa a perceber que o repertório
delas de medo, tristeza, alegria, raiva é mais rico do que os áridos clichês
emocionais usados pelos homens. Estar ao lado de uma mulher permite não apenas
usufruir de uma gama maior de sentimentos. Permite expressá-los de um jeito que
não se faz no convívio entre homens.
Alguns dos melhores momentos da minha vida foram passados ao
lado de mulheres contando algo de bom que lhes tinha acontecido. A alegria
delas nessa hora é contagiante. Homens raramente são capazes de se despir da
soberba e de exibir surpresa com a generosidade da vida. As mulheres, que não
foram criadas como príncipes, expressam melhor alegria e gratidão diante do
inesperado.
É inevitável, sendo homem, amar a forma delicada como as
mulheres cuidam de si mesmas. A saúde, os planos, a agenda repleta de
compromissos. Sem falar dos filhos, claro. Tenho mais de uma amiga cheia de
responsabilidades que, vira e mexe, me surpreende com uma mensagem do outro
lado do mundo. Elas procuram passagens baratas, acham tempo para viajar,
organizam o pagamento de prestações. Ao mesmo tempo que fazem todo o resto que
mal consigo fazer. Tenho certeza de que todas elas se tornarão velhinhas ativas
e felizes, enquanto temo pelo futuro dos marmanjos improvisadores, como eu.
Isso não quer dizer que as mulheres sejam legais o tempo
todo ou que permanecerão adoráveis para sempre. Elas vão embora, nos abandonam,
deixam de nos amar, se tornam indiferentes, às vezes nos odeiam com uma energia
única. Não importa. Em algum lugar da nossa memória, continuarão nuas, com as
mãos na cadeira, sacudindo os cabelos molhados com enorme desalento,
reclamando, diante do guarda-roupa: “Não tenho o que vestir!”. Oh, graças a
deus!
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