sábado, 29 de novembro de 2014

MULHERES



Se não houvesse outra razão para gostar do convívio com as mulheres, haveria a maneira como elas são capazes de parar pela manhã diante do guarda-roupa escancarado e queixar-se amargamente de que não têm o que vestir. Usualmente nuas, com as mãos nas cadeiras, fazem um beicinho desolado. Várias vezes por semana.
Metrossexuais à parte, homens não têm esse encanto. Falta a eles sinceridade ou imaginação. Mark Zuckerberg, o fundador do Facebook, diz que economiza tempo e energia usando sempre a mesma cor de camiseta. Há um exemplo feminino equivalente? Desconheço. Mulheres tendem a ser ciosas da própria aparência. Esse é apenas um dos fatos que as distingue positivamente dos homens.
Às vezes, quando estou enternecido, tenho vontade de fazer a lista das coisas que tornam as mulheres adoráveis. A cena diante do guarda-roupa é uma delas. Outra, talvez minha favorita, é a capacidade de chorar fazendo sexo. Não qualquer sexo, em qualquer dia, mas o sexo apaixonado que só se faz de vez em quando, cheio de ternura, beijos e juras pornográficas de amor.
Outra coisa que me toca é a sinceridade das mulheres diante das próprias emoções. Quando jovem, a gente se perturba com a intensidade e a franqueza dos sentimentos delas. Está tudo à flor da pele, vem aos borbotões, assusta. Com os anos, a gente se acostuma. Começa a perceber que o repertório delas de medo, tristeza, alegria, raiva é mais rico do que os áridos clichês emocionais usados pelos homens. Estar ao lado de uma mulher permite não apenas usufruir de uma gama maior de sentimentos. Permite expressá-los de um jeito que não se faz no convívio entre homens.
Alguns dos melhores momentos da minha vida foram passados ao lado de mulheres contando algo de bom que lhes tinha acontecido. A alegria delas nessa hora é contagiante. Homens raramente são capazes de se despir da soberba e de exibir surpresa com a generosidade da vida. As mulheres, que não foram criadas como príncipes, expressam melhor alegria e gratidão diante do inesperado.
É inevitável, sendo homem, amar a forma delicada como as mulheres cuidam de si mesmas. A saúde, os planos, a agenda repleta de compromissos. Sem falar dos filhos, claro. Tenho mais de uma amiga cheia de responsabilidades que, vira e mexe, me surpreende com uma mensagem do outro lado do mundo. Elas procuram passagens baratas, acham tempo para viajar, organizam o pagamento de prestações. Ao mesmo tempo que fazem todo o resto que mal consigo fazer. Tenho certeza de que todas elas se tornarão velhinhas ativas e felizes, enquanto temo pelo futuro dos marmanjos improvisadores, como eu.

Isso não quer dizer que as mulheres sejam legais o tempo todo ou que permanecerão adoráveis para sempre. Elas vão embora, nos abandonam, deixam de nos amar, se tornam indiferentes, às vezes nos odeiam com uma energia única. Não importa. Em algum lugar da nossa memória, continuarão nuas, com as mãos na cadeira, sacudindo os cabelos molhados com enorme desalento, reclamando, diante do guarda-roupa: “Não tenho o que vestir!”. Oh, graças a deus!

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