Um colega de 18 anos me fala timidamente sobre seu interesse por
uma menina. Posso notar que a rejeição que está sofrendo por parte dela lhe
causa sofrimento. Ele acredita que ama e não é amado. Com palavras e
vocabulário bem característicos da sua geração, me revela suas dúvidas e
surpresas. Como é possível que um sentimento bom seja desperdiçado? Que ela
ignore a possibilidade de algo tão especial? Encasquetado com esse mistério do
universo, está amuado e pensativo. Nem repara na outra menina que o procura,
demonstrando um interesse que ele não parece disposto a registrar.
Passados alguns dias, vejo ele na mesma toada e tenho vontade de ajudá-lo a
sair dessa obsessão. Desfio todas as frases que se usa em ocasiões assim e que,
agora que as escrevo, noto que são tão batidas: – Parta para outra. Não sofra
por isso. Preste atenção nas outras meninas em torno de você. Daqui a pouco
você não lembra mais dela.
Claro que ele duvida de mim. Nunca passou por isso antes.
Deve estar pensando que esse amor vai durar para sempre.O que dizer para um
menino sobre o amor que começa a se infiltrar na vida dele?
Da minha parte, tampouco quero influenciá-lo demais. É uma
grande responsabilidade e não estou seguro de que minha influência é totalmente
positiva. Que tal se transfiro para ele minhas próprias dúvidas e crises? Quero
falar de desprendimento, mas posso inspirá-lo a ser cínico e não é isso que
pretendo.
Só quero transmitir a ideia de que há um elemento
incontrolável nesse jogo de atrações que traz a Fulana para perto dele e mantém
a Sicrana distante, ignorando-o. Não podemos controlar tudo. Isso não é
necessariamente ruim – às vezes o imponderável parece nos prejudicar, outras
vezes percebemos que estamos sendo abençoados com um encontro especial, que não
sabemos explicar.
Quero dizer a ele que desfrute mais e preocupe-se menos.Mas
um jovem de 18 anos vai entender alguma coisa dessa minha
conversa sobre os imponderáveis da vida? E se entender, vai acreditar? Duvido.
Quero convencê-lo de que o amor é para ser fonte de alegria.
Que esses casos em que um quer dar e o outro não faz questão de receber são
deturpações, vielas que não levam a lugar nenhum e que devem ser abandonadas
logo. Que se alguém te estima muito, é bom prestar atenção nessa estima.
Minhas palavras não soam convincentes para ele, que está na
fase das paixões, do narcisismo, do romantismo.
O rapaz segue às vezes amuado, às vezes muito animado. Passa
por mim exibindo seu humor inconstante e sua paixão duradoura pela menina que o
ignora. Acho que não entendeu nada do que eu disse, mas não é culpa dele. Eu é
que, ao tentar poupá-lo de sofrimentos causados pelo coração, estava querendo o
impossível.
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