sexta-feira, 28 de novembro de 2014

O JOVEM E O AMOR



Um colega de 18 anos  me fala timidamente sobre seu interesse por uma menina. Posso notar que a rejeição que está sofrendo por parte dela lhe causa sofrimento. Ele acredita que ama e não é amado. Com palavras e vocabulário bem característicos da sua geração, me revela suas dúvidas e surpresas. Como é possível que um sentimento bom seja desperdiçado? Que ela ignore a possibilidade de algo tão especial? Encasquetado com esse mistério do universo, está amuado e pensativo. Nem repara na outra menina que o procura, demonstrando um interesse que ele não parece disposto a registrar.

Passados alguns dias, vejo ele  na mesma toada e tenho vontade de ajudá-lo a sair dessa obsessão. Desfio todas as frases que se usa em ocasiões assim e que, agora que as escrevo, noto que são tão batidas: – Parta para outra. Não sofra por isso. Preste atenção nas outras meninas em torno de você. Daqui a pouco você não lembra mais dela.
Claro que ele duvida de mim. Nunca passou por isso antes. Deve estar pensando que esse amor vai durar para sempre.O que dizer para um menino sobre o amor que começa a se infiltrar na vida dele?
Da minha parte, tampouco quero influenciá-lo demais. É uma grande responsabilidade e não estou seguro de que minha influência é totalmente positiva. Que tal se transfiro para ele minhas próprias dúvidas e crises? Quero falar de desprendimento, mas posso inspirá-lo a ser cínico e não é isso que pretendo.

Só quero transmitir a ideia de que há um elemento incontrolável nesse jogo de atrações que traz a Fulana para perto dele e mantém a Sicrana distante, ignorando-o. Não podemos controlar tudo. Isso não é necessariamente ruim – às vezes o imponderável parece nos prejudicar, outras vezes percebemos que estamos sendo abençoados com um encontro especial, que não sabemos explicar.
Quero dizer a ele que desfrute mais e preocupe-se menos.Mas um  jovem de  18 anos vai entender alguma coisa dessa minha conversa sobre os imponderáveis da vida? E se entender, vai acreditar? Duvido.
Quero convencê-lo de que o amor é para ser fonte de alegria. Que esses casos em que um quer dar e o outro não faz questão de receber são deturpações, vielas que não levam a lugar nenhum e que devem ser abandonadas logo. Que se alguém te estima muito, é bom prestar atenção nessa estima.
Minhas palavras não soam convincentes para ele, que está na fase das paixões, do narcisismo, do romantismo.
O rapaz segue às vezes amuado, às vezes muito animado. Passa por mim exibindo seu humor inconstante e sua paixão duradoura pela menina que o ignora. Acho que não entendeu nada do que eu disse, mas não é culpa dele. Eu é que, ao tentar poupá-lo de sofrimentos causados pelo coração, estava querendo o impossível.


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