Ouvir música no rádio do carro é uma das minhas pequenas
alegrias diárias. Muita gente prefere plugar o iPod ou carregar no porta-luvas
uma pequena coleção de CDs. Eu não. A experiência repetida me ensinou que,
sintonizado na estação certa, o rádio pode me oferecer surpresas – e emoções –
que não caberiam na memória de nenhum aparelho.
Ontem, guiando para o centro da cidade – numa manhã
ensolarada - ouvi os primeiros acordes
de Is this love, de Bob Marley. Vocês conhecem essa canção, claro. É aquela,
famosa, em que o narrador se oferece para viver sob o mesmo teto com alguém.
Ele fala, lindamente, em dividir o abrigo da mesma cama e promete tratar
direito a pessoa que deseja. Só então, depois de todas essas garantias, ele
pergunta “is this love that I am feeling?” Ou seja, “isto que eu estou sentindo
é amor?”
Mais comum do que a ausência de amor, mais comum do que a
dúvida sobre o amor do outro por nós, é a dúvida que temos sobre os nossos
próprios sentimentos em relação ao outro. Tente se lembrar: quantas vezes,
diante dessa ou daquela sensação, deste ou daquele sentimento, você não se viu
na mesma situação, perguntando a si mesmo, quase em voz alta: será que isso que
eu estou sentindo é amor? Será que eu amo essa pessoa?
Se nós nos fizéssemos perguntas mais simples e menos
pretensiosas sobre os nossos sentimentos, talvez conseguíssemos respostas mais
claras. Por exemplo: eu gosto de ficar com essa pessoa? Ou então: eu tenho
vontade de morar com ela? Que tal, ainda: eu sinto saudades quando ela não
está? A presença dessa pessoa me desperta confiança? Ela faz com que eu me sinta
melhor a respeito de mim mesmo? Eu a admiro, eu temo perdê-la, eu gosto de
pensar que estarei com ela daqui a 10 anos?
Tenho observado – e posso estar errado – que o amor é um
sentimento claro e absoluto apenas para quem não desfruta dele. Nós amamos, desesperadamente,
a pessoa que nos deixou. Nosso amor é óbvio, e inabalável, por aquela criatura
que nos deixa em permanente incerteza. Amamos ferozmente, claro, quem nunca deu
sinal de nos querer. Se isso tudo é verdade, a moral da história é muito clara:
nós amamos, realmente, e de forma permanente, o nosso desejo. Quando ele está
saciado – pela certeza do amor e da presença do outro – então já não temos
tanta convicção. Faz parte da nossa natureza perversa, eu acho.
minha conclusão é que nos resta viver em paz com as nossas
dúvidas insolúveis. Muitos de nós jamais terão certeza sobre o amor, mas isso
não deve nos impedir de vivenciá-lo. Sigamos adiante com as dúvidas, as noites
de paixão e as manhãs ensolaradas. Talvez o tempo nos responda, talvez façamos
uma poesia ou uma música – como Bob Marley
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