sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

A MÚSICA




Ouvir música no rádio do carro é uma das minhas pequenas alegrias diárias. Muita gente prefere plugar o iPod ou carregar no porta-luvas uma pequena coleção de CDs. Eu não. A experiência repetida me ensinou que, sintonizado na estação certa, o rádio pode me oferecer surpresas – e emoções – que não caberiam na memória de nenhum aparelho.
Ontem, guiando para o centro da cidade – numa manhã ensolarada  - ouvi os primeiros acordes de Is this love, de Bob Marley. Vocês conhecem essa canção, claro. É aquela, famosa, em que o narrador se oferece para viver sob o mesmo teto com alguém. Ele fala, lindamente, em dividir o abrigo da mesma cama e promete tratar direito a pessoa que deseja. Só então, depois de todas essas garantias, ele pergunta “is this love that I am feeling?” Ou seja, “isto que eu estou sentindo é amor?”
Mais comum do que a ausência de amor, mais comum do que a dúvida sobre o amor do outro por nós, é a dúvida que temos sobre os nossos próprios sentimentos em relação ao outro. Tente se lembrar: quantas vezes, diante dessa ou daquela sensação, deste ou daquele sentimento, você não se viu na mesma situação, perguntando a si mesmo, quase em voz alta: será que isso que eu estou sentindo é amor? Será que eu amo essa pessoa?
Se nós nos fizéssemos perguntas mais simples e menos pretensiosas sobre os nossos sentimentos, talvez conseguíssemos respostas mais claras. Por exemplo: eu gosto de ficar com essa pessoa? Ou então: eu tenho vontade de morar com ela? Que tal, ainda: eu sinto saudades quando ela não está? A presença dessa pessoa me desperta confiança? Ela faz com que eu me sinta melhor a respeito de mim mesmo? Eu a admiro, eu temo perdê-la, eu gosto de pensar que estarei com ela daqui a 10 anos?
Tenho observado – e posso estar errado – que o amor é um sentimento claro e absoluto apenas para quem não desfruta dele. Nós amamos, desesperadamente, a pessoa que nos deixou. Nosso amor é óbvio, e inabalável, por aquela criatura que nos deixa em permanente incerteza. Amamos ferozmente, claro, quem nunca deu sinal de nos querer. Se isso tudo é verdade, a moral da história é muito clara: nós amamos, realmente, e de forma permanente, o nosso desejo. Quando ele está saciado – pela certeza do amor e da presença do outro – então já não temos tanta convicção. Faz parte da nossa natureza perversa, eu acho.

minha conclusão é que nos resta viver em paz com as nossas dúvidas insolúveis. Muitos de nós jamais terão certeza sobre o amor, mas isso não deve nos impedir de vivenciá-lo. Sigamos adiante com as dúvidas, as noites de paixão e as manhãs ensolaradas. Talvez o tempo nos responda, talvez façamos uma poesia ou uma música – como Bob Marley

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