O ano de 1984 foi importante na
minha vida todos nos temos o ano que muda nossas vidas, aquele ano mudou a
minha para sempre, em fevereiro, como é tradição, aconteciam os bailes pré-carnavalescos,
o baile do Havaí ia acontecer ao redor da piscina do Clube Comercial, conhecido
na cidade de Volta Redonda, cidade em que passei a maior parte de minha vida.
Havia muita gente ao redor da
piscina e alguns acabaram sendo empurrados
para dentro da água, eu fui uma dessas pessoas, descuidado estava com
dinheiro e documentos no bolso da bermuda e tudo acabou ensopado com o banho involuntário. Chateado me despedi de alguns amigos e tomei
a direção do portão de saída, pois para mim a festa havia acabado.
Quando estava me aproximando da
roleta de saída uma mão surgiu na minha frente interrompendo minha saída. Era uma
morena alta e bonita, disse que eu não poderia sair dali naquele estado, pois
se tratava de uma festa e que eu não sairia dali sem que lhe desse um beijo, a
situação me parecia meio surreal, mas vendo que ela estava falando sério
resolvi ceder aos encantos da morena que beijei. Esse beijo se prolongou por alguns
minutos, logo depois fomos ao restaurante do clube onde conversamos sobre esse
encontro estranho sem paquera, pelo menos de minha parte. Ela disse que já havia me observado por algum
tempo, mas olhando meus amigos, observou que não tínhamos nenhum amigo em comum
para sermos apresentados e pediu a uns amigos que diante de tantas pessoas
sendo empurradas na piscina eu podia ser mais um.
Logo começamos a namorar sobre as
vistas vigilantes de sua tia que era responsável pela morena de belo de sorriso,
pois sua família estava no interior de Minas e ela estava em Volta Redonda para
estudar. Após este dia tantos os
projetos dela como os meus foram mudados, com uma gravidez inesperada por
descuido de dois jovens inebriados por sentimentos novos e indomáveis tivemos
dois filhos aos quais demos os nomes de ruan e rayanne.
Hoje já se passaram dezesseis anos
que a perdi por uma doença rara chamada de Lupos. Vivi uma grande história de amor como nos
filmes da TV. Nas manhãs em que ela saia
de casa primeiro, eu ficava na porta do apartamento esperando que ela saísse no
portão. Olhava minha mulher de cabelos
molhados no meio do hall e sentia uma saudade enorme dela, que ainda estava
ali, na minha frente. Então ela perguntava, divertida, “o que foi?” eu apenas
sorria em silêncio.
Como explicar que o coração me
subia à garganta, que separar-me dela me enchia de pressentimentos, que sofria
de maneira besta e irremediável em meio à paz do casamento. Se eu tivesse de explicar, não poderia. Não
havia nada errado fora de mim. Ao contrário, ela parecia igualmente apaixonada,
as vidas se misturavam como num rio, os dias transcorriam sem sobressaltos. Fazíamos
planos. Inexplicavelmente, eu me inquietava.
Jamais fora tão feliz, dos meus
amores de adolescente, nenhum durara tanto. Nunca o desejo e a ternura haviam
se fundido na mesma mulher, por tanto tempo. Pela primeira vez, de forma
exaltada e consciente, temia. Quando ela me abraçava de manhã, cheia de sono,
esparramada sobre meu peito, sentia-me completo. Então, uma voz dentro de mim sussurrava:
“Tudo acaba, isto pode acabar”. Nem todos os dias eram assim, havia brigas,
chateações, irritações profundas. Às vezes, o convívio era um inferno. As
personalidades colidiam, os gostos se estranhavam, mesmo os corpos – cansados
ou tristes com a vida, talvez saudosos de novidades. Disso, eu não sentia
saudades, eu pensava. Não seria assim tão duro se acabasse. Mas, se dela viesse
um olhar triste, um gesto de dor ressabiado, eu me enchia de culpa. Voltava a
sentir-me parte de algo estremecido, responsável último e refém da felicidade
daquela criatura de olhos escuros que me fitava com medo – tão linda como eu
nunca havia visto, tão amedrontada quanto eu no amanhecer do amor.
The End
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