sábado, 10 de janeiro de 2015

GAYS

O mundo como era antes está encolhendo. Onde eu vivo, você levanta de manhã, vai à padaria, e dois garotos trocam um selinho no balcão à sua frente, às 8 horas da manhã. Ou você vai à festa de aniversário de uma amiga e ela apresenta a todos a namorada dela. Não é mais uma tremenda exceção.Diante dessas novidades, que estão por toda parte, nós somos convidados a escolher diariamente. Podemos rejeitar como coisa imoral ou anormal, ou podemos aceitar e abraçar, como parte de uma existência mais livre para todos.
Uma amiga de faculdade se sentiu ofendida por uma pessoa  da sala pregar aos quatro ventos contra esse tipo de relacionamentos e eu tentando ajudar não consegui nada além  frieza por parte das pessoas que tentei intermediar
No fundo, temos de decidir, intimamente, se as pessoas que sentem diferente de nós têm direito a serem felizes como nós. O mundo ao nosso redor já tomou essa decisão faz algum tempo, na forma de leis e costumes cada vez mais liberais, que permitem às pessoas viverem como quiserem. Mas isso não muda o fato de que cada um de nós tem de decidir, sozinho ou sozinha, como se sente diante dessa nova realidade.
Nelson Rodrigues escreveu, provavelmente no final dos anos 60, uma crônica famosa sobre escolhas morais. Chama-se O ex-covarde. Nela, denuncia a pressão intelectual dos grupos de esquerda que, naquela época de resistência ao golpe militar, eram muito influentes entre os jovens e os intelectuais depois de muito sofrer, perdeu o medo dos jovens e dos comunistas. Por isso pode mandá-los às favas, porque é um ex-covarde.
Me sinto, finalmente, parte do movimento que abraça a mudança. Os jovens gays me provocam simpatia equivalente à antipatia de Nelson pelos jovens comunistas. As opiniões e o comportamento se movem numa direção que eu, de modo geral, aprovo. Vão ficando para trás as barreiras emocionais que me impediam de conviver com naturalidade com casais de mulheres ou de homens. As escolhas sexuais ou afetivas dos outros não mais me incomodam, ao menos de uma forma que eu perceba. Por isso é possível respeitá-las. Acho essa uma grande conquista pessoal, e por isso me sinto um ex-babaca.
Uma coisa é opor-se a ideologias políticas que têm o poder de interferir com a vida pública, como o socialismo ou neoliberalismo. Outra coisa é atacar as escolhas privadas das pessoas. Se elas vão se casar com homens ou com mulheres é problema delas. Essa é uma medida universal de civilidade. Quem se insurge contra o politicamente correto, achando que tem direito de dizer o que quer sobre a vida dos outros, em geral exibe seus preconceitos. O mundo com sete bilhões de seres humanos precisa de ideias melhores. Tolerância. Compreensão. Empatia. Com elas, é possível dar bom dia aos rapazes que namoram na padaria sem se sentir agredido. Ou abraçar, contente, a amiga que comemora seu aniversário com a namorada. O melhor jeito de ser feliz é permitindo que os outros também seja.

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