Muitos de nós, talvez a maioria, gastam mais tempo nas redes
sociais que nas relações sociais de verdade. É só fazer as contas. Interagimos
com dezenas de pessoas por dia pelo Facebook, gastamos horas nisso, mas quase
não encontramos ninguém pessoalmente. A situação é tão cômoda, envolve tanta
gente, que essa forma de relacionamento à distância – por meio do celular ou do
computador - tem se tornado a vida social real, enquanto a outra, que só ocorre
quando as pessoas se encontram frente a frente, toma ares de coisa alternativa
e eventual, uma espécie de universo paralelo que transcorre à margem daquilo
que realmente importa.
Obviamente, essa situação tem consequências. Uma delas,
terrível, é a redução das nossas habilidades sociais, como seduzir olhando nos
olhos do outro.Ontem, não pela primeira vez, uma amiga se queixava comigo da
dificuldade em fazer engrenar, pessoalmente, um xaveco que anda rolando há
semanas, e muito bem, pela internet. Nas conversas pelo Facebook, vai tudo às
mil maravilhas. Quando ela encontra o sujeito na vida real, é um desastre. Ele
parece ausente, não dá impressão de estar interessado. Fica uma estranheza
entre eles que não existe nas conversas virtuais. Minha amiga acha que talvez
ele não seja o cara. Acho que ele talvez seja viciado em redes sociais e não
saiba como se comportar diante de uma mulher de carne e osso. Ou, talvez, seja
ela que perdeu o jeito com a realidade.
Exceto por meio dúzia de seres humanos desenvoltos e
privilegiados, esse negócio de sedução frente a frente nunca foi fácil. Somos
criaturas tímidas que convivem, 24 horas por dia, com a contradição entre a
fúria dos sentimentos e a inconveniência social de expressá-los. Quanto mais
atraente nos parece a moça, mais sem jeito ficamos na presença dela. Quanto
mais sensual o sujeito, mais a garota evita que ele perceba como ela se sente.
São comportamentos adolescentes que, de alguma forma, nos acompanham a vida
toda. Por isso, álcool e drogas são tão populares. Eles reduzem a distância
entre nossos sentimentos e nosso comportamento.Permitem que as relações fluam
com alguma naturalidade. Em direção ao sexo, naturalmente. A comunicação de
sentimentos à distância sempre foi mais fácil. A ausência do olhar do outro nos
libera. Nos tornamos mais atrevidos e espirituosos quando não somos observados.
Sem a possibilidade de censura do olhar, a comunicação intelectual e sentimental
fica mais intensa. As inibições refluem. Dão lugar a ousadias verbais que só os
bêbados e os grandes sedutores se permitem em pessoa. Por escrito, todo mundo é
um pouco Don Juan – e isso não é nenhuma novidade.
Para quem não está nessa categoria de pervertido virtual, e
gostaria de viver fisicamente suas relações à distância, recomendo moderação no
uso da internet. Não permita que ela se torne o lugar essencial das trocas. Não
deixe que a intimidade virtual avance a ponto de fazer do contato pessoal um
anticlímax. Marque logo um encontro, enfrente a inibição de olhar nos olhos do
outro, confronte a timidez e se permita superá-la. Aventure-se, corra riscos,
sofra decepções reais. Essencialmente, saia da zona de conforto das conversas
de Facebook. Elas são divertidas, viraram parte da rotina e nos parecem
essenciais. Mas, como dizia o título de um filme antigo, são apenas uma
imitação da vida. A vida de verdade começa quando a gente sorri – e alguém nos
sorri de volta. Frente a frente.
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