segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

VIAJAR



Não é ruim ficar sozinho, mas é uma droga estar sozinho involuntariamente".Se você vir cinco mulheres maravilhosas no mesmo quarteirão, não está no Céu. Está carente você sabe que está apaixonado quando quer comprar tudo que vê para a mesma pessoa".


Conheço um cara que viajou para o Japão depois que a mulher que ele amava o abandonou. Sei de uma moça que mudou de São Paulo para Buenos Aires porque não suportava a proximidade com o homem que ela estava apaiconada. Todo mundo conhece alguém que mudou de cidade, de bairro ou de emprego tentando deixar para trás um grande amor. Acho essa uma saída  honrosa para desastres amorosos. Mas será que mudanças geográficas são capazes de alterar os nossos sentimentos?
Minha intuição e experiência sugerem que sim.
Nossos sentimentos se reforçam pela presença do outro. Há uma ligação direta entre o que vemos e o que sentimos. Diante do objeto de desejo é impossível deixar de desejar. Por isso as pessoas se afastam. Por isso deixam de se ver quando rompem. Mas, às vezes, o afastamento simples não resolve. Às vezes, a presença do outro é tão forte em nós que é preciso uma ruptura adicional: colocar, entre nós e ele, dois estados, um país, um oceano, um continente inteiro. Quem sabe assim desapareça o impulso de voltar correndo para quem não nos quer mais.
Sei que parece dramalhão mexicano, mas nossa vida amorosa é mesmo ridícula. Uma vez, sai de férias para ficar longe de uma mulher e gastei metade da viagem falando com ela ao telefone. Foi caro, inútil e perfeitamente patético. Ainda bem que agora existe o Whatsapp.
A tecnologia – entretanto - tornou-se inimiga das nossas nobres intenções. No passado, o sujeito subia num barco, cruzava o Atlântico e era como se tivesse mudado de planeta. Sumia. No máximo, podia enviar um telegrama. Agora, de que adianta fazer trabalho voluntário na África se o celular vai no seu bolso? Com ele seguem todas as formas possíveis de tortura e de comunicação. Além de mandar e receber mensagens, em todos os formatos, você pode assistir ao vídeo que a sua ex postou no réveillon, aparentando ser a mulher mais linda e bem-amada do planeta. Em certos dias, a tecnologia existe apenas para nos fazer mal.
Viajar impede de ver, mas não impede de sentir. Se você estiver na fase de dependência química do outro, vai arrumar um jeito de mandar – em formato de voz ou de texto – mensagens cheias de súplica e ressentimento, das quais, seguramente, se arrependerá meia hora depois. Mas isso não significa o fracasso do Projeto Viagem.

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