domingo, 9 de julho de 2017
A MÍDIA ADORA O POLITICAMENTE CORRETO
O general Patton, do exército americano, foi um dos responsáveis diretos pela derrota
dos nazistas, além de figura controversa e claramente anticomunista. Nos anos 70 foi feito um filme com o ator George C. Scott
representando o seu papel. Segundo o que nos conta o filme (aqui me interessa pouco se o
filme é biograficamente preciso ou não), num dado momento, após uma dura batalha na Itália,
o general visita a enfermaria onde soldados feridos estão internados.
Diante de um deles, muito mal, Patton se ajoelha e coloca uma medalha. Reza e depois diz
algumas palavras ao seu ouvido, visivelmente emocionado. O personagem do general é
apresentado como alguém que habita o mundo da moral aristocrática guerreira da
Antiguidade. Para ele, a enfermaria é um “lugar de honra”, como ele mesmo diz nessa cena.
Com isso, ele se refere ao fato óbvio de que soldados feridos na batalha são homens de honra
por enfrentarem a morte com coragem.
Agora vejamos. Na mesma cena, ao sair da enfermaria, Patton vê um soldado sentado sem
nenhum ferimento aparente. Pergunta a ele o que se passou. O soldado, com a voz
estremecida, responde que o problema eram “seus nervos”. Patton fica estarrecido. Grita com
o soldado, esbofeteia-o, ameaça puxar o revólver do gatilho e manda que o tirem dali porque
ali “é um lugar de honra”, e ele não queria ver seus homens corajosos feridos maculados pela
presença, ele usa esta expressão, “de um covarde”.
Na sequência, o filme narra a “queda” de Patton, ainda que ele volte a comandar um
exército americano após o Dia D, mas sem qualquer grande reconhecimento. E, para sua
maior humilhação, ele passará a ser comandado por um colega que sempre fora seu segundo
oficial. A queda de Patton se dá por conta do barulho que a mídia faz acerca dos “maus
tratos” que ele demonstrara ao soldado covarde (assumo aqui, claro, o ponto de vista de
Patton).
O estardalhaço da mídia gera no exército a reação que levará Patton à desgraça. O filme
feito em plena era da Guerra do Vietnã ecoa o sabido impacto negativo (do ponto de vista do
exército americano) que a mídia e a sociedade americanas tiveram sobre o desenrolar da
Guerra do Vietnã. Ali nascia a praga PC.
O que esse fato do filme relata é o nascimento do politicamente correto. Patton foi
politicamente incorreto ao chamar o soldado pelo “seu” nome, “covarde”, porque o exército
vê sua reação como “insensível” aos limites do soldado em questão e ruim para a “boa”
imagem da instituição. A praga PC é uma mistura de covardia, informação falsa e
preocupação com a imagem. Combina com uma época frouxa como a nossa.
No filme (nele testemunhamos os primeiros sinais do processo que daria no politicamente
correto em seu embrião), vemos um dos melhores generais dos Estados Unidos prejudicado
pelo fato de se mover dentro do espectro da ética da coragem, virtude guerreira máxima. Ser
politicamente correto nesse caso é negar o valor da coragem em favor da “sensibilidade
frágil” do soldado. Do ponto de vista de Patton, a guerra e o exército são instituições que
glorificam a humanidade fazendo brilhar seus homens mais corajosos. Punindo-o da forma
como o exército e a mídia o puniram, estaríamos faltando ao respeito para com os homens
que morrem porque não fogem do medo e da morte, como o “sensível” fugiu. Um exército de
covardes, ou um exército que “desculpa” a covardia, seria um exército morto. O mesmo vale
para a humanidade como um todo.
Claro que existe a sensibilidade humana também, mas, ao querer transformar coisas como
essas em “políticas públicas”, o politicamente correto destrói aquilo mesmo que quer
valorizar. Esse é um de seus grandes pecados. A sensibilidade de um soldado só pode ser
medida diante de sua coragem, e não sem ela. Homens sensíveis também morrem na guerra
porque foram corajosos, logo, o que levou aquele soldado em questão à enfermaria não foi
sua sensibilidade, mas sua covardia.
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