quinta-feira, 31 de agosto de 2017

VOU TE CONTAR

< Em minha experiência pessoal era frequente o encontro da família em torno dos avós e dos bisavós. A autoridade dos pais era preservada e os avós usufriam do afeto. Historicamente, a idade foi um critério de status social, os idosos eram valorizados. Hoje, são os jóvens que possuem status elevados. Os conhecimentos mais recentes não são possuídos pelos mais velhos, mas pelos jovens, valorizando-se os avanços tecnológicos para a formação deles, esquecendo-se dos valores humanísticos e sociais. Vivemos um momento decorrente de mudanças das e nas famílias, no qual a convivência e trocas entre as gerações precisam ser resgatadas. A longevidade se faz presente e a experiência perde seu valor . Todavia, a experiência associada ao poder tem gerado conflitos entre pais e filhos; há a falta de contato e de diálogo entre as gerações Em tempos de culto ao corpo “jovem e belo”, o processo de envelhecimento tornou-se, para muitas pessoas, um verdadeiro drama existencial. É certo que as pessoas estão vivendo mais, mas a que preço? Aquela imagem da vovó de cabelo branco esperando seus netinhos com um bolo quentinho saindo do forno, está cada vez mais difícil de encontrar. Hoje, há até quem se envergonhe de ser chamada de “avó” em público, “porque podem achar que sou velha”. A condição humana de ser ou estar “velho” foi assumida definitivamente em sua versão pejorativa, sinônimo de antiquado, desatualizado e antigo. Atualmente, na nossa cultura, criou-se uma nova categoria chamada “3a idade” ou “melhor idade”, também para amenizar e resgatar o valor das pessoas idosas. Incontestável mesmo é a beleza do encontro entre as gerações, as aprendizagens que podem ser descobertas entre pessoas que vivem numa mesma época, mas que estão em fases de vida tão diferentes. De um lado, uma criança em pleno desenvolvimento, conhecendo a vida com olhos de primeira vez e, de outro, um idoso com anos muito bem vividos, com tantas histórias para contar, com olhos fraternos e já cansados… Quando observo os encontros entre idosos e crianças, compreendo e respeito ainda mais os ciclos da vida. Lógico que lá no fundo, muitas vezes, lamento que os encontros entre gerações tão distantes sejam tão breves. Mas acredito em sua intensidade, nos “tempos emocionais” despendidos, nas belas marcas afetivas que ficarão para sempre nas memórias dos que ainda têm a vida toda para ser vivida.

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